A Psicologia também foi responsável por patologizar as homossexualidades. É claro que hoje (com exceção de “profissionais” que se autointitulam “Psicólogo Cristão”) a Psicologia avançou muito nos estudos e debates acerca das questões de gênero e sexualidade, e não apenas retirou o “ismo” de seu olhar, como também tem travado uma luta a favor dos direitos da população lgbtqia.
Contudo, essa sombra do passado ainda assombra e parece orientar alguns pais e mães, que ao se verem diante da homossexualidade dos seus filhos, recém saídos do armário, procuram lhe enfiar na psicoterapia. Alguns pais alegam que não estão fazendo isso pelo fato da sexualidade de seus filhos, mas sim para que eles se entendam melhor e sofram menos, tudo na esperança de uma “reversão ou cura gay” mascarada?!
É engraçado como isso ainda deflagra uma sociedade que procura intervir nas sexualidades que fogem da curva heteronormativa e cisgênera. Não há registros de casos semelhantes de heterossexuais cisgêneros que foram a psicoterapia por isso, por serem heterossexuais e cisgêneros! Engraçado, não?
Levar pessoas lgbtqia a psicoterapia, na desculpa de as proteger, é violência. Se fosse listar os motivos que um lgbtqia precisaria de um psicólogo, seria muito mais para que ele crie mecanismos de resiliência e autoaceitação diante de uma sociedade terrivelmente lgbtqiafóbica, do que fazer dele um fantoche para uma sociedade de aparências. Ainda ressalvaria que, na verdade quem precisa de psicoterapia são seus pais, pois de algum modo muito interessante a sexualidade do seu filho remexeu algum conteúdo deles, e isso poderia carecer de longas horas de análise.
Não estou aqui para dizer que bons e experientes profissionais não tenham seus motivos para acolher essas demandas, até pelo fato de que há nessa dinâmica sofrimentos que precisam ser elaborados. Agora, fazer disso um hábito sem critério e crítica, beira não apenas uma atitude antiética de alguns profissionais, como também expõe a lgbtfobia deles, que claro sempre vem mascarada de algum discurso científico do final do séc. XIX ou ainda pior, crenças religiosas fundamentalistas.
Para ver mais textos de Sérgio Lourenço, confira sua coluna Queer-se.
Foto de cottonbro no Pexels
Entre em nosso grupo de WhatsApp Boletim Pró Diversidade e receba notificações das publicações do site.
Respostas de 2
Um dos meus irmãos costuma dizer que psicólogos procuram ser profissionais da área, para resolverem seus conflitos! Mas sendo razoáveis há psicólogos e tenho percebido médicos (além da especialidade de urologista) que relutam em sair e/ou descer do armário!
Conheço pais que se lembram da psicologia quando suspeitam da orientação sexual do filho, passando por cima de outros sintomas de adoecimento mental. Triste essa realidade.