Infelizmente, não podemos costurar o tempo. Bom seria se pudéssemos costurar as pessoas que gostamos juntinho de nós ou quem sabe ao menos guardar o cheiro delas num potinho. Aliás, tenho vontade de guardar vários aromas – de café fresco, livro novo, meu doguinho, terra molhada após a chuva, do perfume que fica na nossa roupa ao abraçarmos quem temos um carinho especial, do pão caseiro saindo do forno, da lasanha da minha mãe ou da torta de maça, das flores na minha varanda, da mistura de cheiros que pairam no ar pós-banho, das sobrinhas quando eram bebê, do bolo quentinho, do sexo e da pele de quem amamos. Independente do tempo, as memórias olfativas nunca sairão de nós!
Quem não gostaria de costurar momentos alegres entre amigos, viagens inesquecíveis, almoços de domingo com a família, risadas sinceras, brilhos nos olhares, toques delicados, abraços apertados, saudades e os amores gratuitos. Imagina se pudéssemos costurar um coração enlutado ou partido?! Talvez consigamos costurar algumas feridas, mas não temos certeza de que elas cicatrizarão. Nem todo mundo está habilitado a suturar com perfeição, mas pelo menos a gente tenta e torce para dar certo.
Gosto de costurar bons pensamentos enquanto aprecio uma taça de vinho, ouvindo música ou sentindo o vento tocar suavemente meu rosto. Fecho os olhos e sorrio. É como se sentíssemos um beijo no rosto daqueles ou daquilo que nos deixaram saudosos.
Sempre me questiono: o que seria de nós sem lembranças?! Recordar é viver! Sempre que possível dê uma pausa, respire fundo e rememore o que lhe fez/faz bem. Tenho certeza que você irá sorrir mesmo que seja por alguns segundos.
Algumas lembranças tocam o coração tão profundamente que é praticamente impossível conter as lágrimas. A saudade rasga a alma. Não existe remédio, costura ou remendo. A visão embaça e pronto. Temos um tsumani devastando nossos olhos. Chorar é um analgésico natural, cura de dentro para fora. Lágrimas funcionam como um regar de plantas, elas precisam de água para crescer. A alma agradece e a gente engrandece – amadurece.
Ainda bem que temos sempre o que relembrar. Já imaginou você perder lentamente todas as suas lembranças?! Das mais simples as mais importantes?! Acho que é justamente por isso que tenho pavor do mal de Alzheimer, principalmente pela perda de memória lenta, gradativa e irreversível. Todas a suas memórias desaparecem como num piscar de olhos e se vão para nunca mais. Triste demais!
Sempre que possível costure, borde, pinte, remende e customize lembranças, faz bem ao coração. Sigo bordando possibilidades, felicidade, otimismo e esperança, mas jamais deixo de costurar lembranças.