Cartas para meu irmão

Bi, mesmo depois de um ano que você se foi, ainda não consigo acreditar que não está aqui conosco. Acho que enquanto eu viver nunca irei acreditar. Você foi tão rápido que nem deu tempo de me despedir. Espero que você tenha escutado e sentido a mãe enquanto você esteve entubado. Foi o momento mais “feliz” para ela, por que pode te ver e tocar em você por uns minutos. Por aqui a torcida era gigante para você se recuperar, estávamos programando uma festa para quando você saísse do hospital.

Gostaria muito de poder ter me despedido de você, mas essa doença estúpida não permitiu. A gente se despede das pessoas sem saber que podemos estar nos despedindo para sempre. Durante a pandemia me despedi de você algumas vezes sem saber – na última e única vez que nos vimos pessoalmente e nos abraçamos forte quando você me deixou em casa, na nossa última vídeo chamada, na última ligação e na última mensagem trocada enquanto você estava internado.

Queria que você soubesse que naquele 19 de junho de 2021, meu coração dilacerou de um jeito que é impossível juntar as partes. Um filme em câmera lenta correu dentro de mim. Nunca vou me esquecer da mensagem da mãe dizendo “acabou”. Era madrugada e eu gritei em silencio para não acordar os vizinhos. Você não tem ideia de quantas pessoas estavam envolvidas pedindo por sua cura. Centenas, de todas as religiões e crenças possíveis. Espero que toda essa energia tenha servido de luz na sua passagem.

Perdi as contas de quantas vezes chorei em silêncio, o banho é meu lugar favorito. Tudo me lembra você. Demorei a voltar a escutar música, posterguei comer pizza e quando comi, chorei. Fiz compra no mercado chorando, fui jogar o lixo chorando, falei de você para muitas pessoas e quando viravam as costas, chorava de novo. Silencie minha dor por inúmeras vezes, pois não queria que você sofresse mais.

Você sempre falava que eu tirava várias fotos nossas ou suas e não postava, mas eu postava sempre, você que não tinha rede social. E continuo postando. Quero que todos saibam da imensidão do amor que tenho por você. Posto para matar a saudade também. Aliás, o que me conforta é ver suas fotos e ouvir sua voz. Faço isso várias vezes sempre que sinto sua ausência apunhalando minha existência. Ah, peguei alguns pertences no seu quarto – boné, o E.T de pelúcia que você havia prometido, a camisa do Corinthians (que vai virar um quadro na minha sala de estar), entre outras coisinhas. Para quem não sabe sou Palmeirense. Entre os pertences, peguei também seu perfume e quando quero você um pouquinho mais perto dou uma cheiradinha. Você deve rir todas às vezes que faço isso. Desculpa, mas vou tentando amenizar as coisas por aqui do meu jeito.

Saudade da sua gargalhada, das suas piadas sem graça, da sua barba mais macia que meu cabelo, das suas ligações, das suas conquistas, da sua voz, de você aqui em casa, das suas brincadeiras e das nossas conversas. Deve ter doido descobrir que algumas pessoas só estavam ao seu lado pelo conforto financeiro que você proporcionava e que alguns “amigos”, não eram de verdade. Não fique triste, a vida irá cobrar de cada um. Mas espero que tenha se alegrado com todo amor verdadeiro recebido e com todos os sentimentos reais que você sempre teve. Inclusive, espero que tenha gostado de todas as homenagens que recebeu! Que bom que pude falar e demonstrar em vida todo amor que tenho por você, principalmente na última mensagem naquele dia 11. Amo-te para todo sempre!

A sua partida precoce me fez ter certeza de que realmente nunca tive fé. Tenho esperança. Enquanto a esperança mira no futuro a fé mora no presente. Deixo minha fé reservada apenas para meu ca(fé). Não se preocupe, eu entendi todos os recados que você nos enviou. Que todas as nossas conversas, pensamentos, preces e aqueles girassóis tenham chegado até você. Acredito que todos aqui que te amam tenham cartas como essa. Infelizmente não posso escrever por todos, é muito pessoal e individual. Eu poderia escrever um livro, talvez escreva outras cartas depois. Nessa, escrevo chorando de saudade e com esperança de um dia poder te reencontrar.

Com amor que não cabe no peito, mas ainda dói…

Dani