Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelada como diz o hit eternizado na voz de Gal Costa, os cabelos para muita gente são sinônimo de beleza e força (sansão que o diga!) e quando passam uma perda seja por motivo natural, este mesmo que vos escreve, apesar da barba farta, os cabelos já não são mais o mesmo, e apesar do ditado “dos carecas que elas(es) gostam mais”, poder mudar de visual conforme o corte, cor e etc., é o que a grande maioria ainda deseja.
Além do motivo natural, um outro motivo para queda das madeixas são as doenças oncológicas, queimaduras sejam acidentais ou não e etc. Nesses casos em que os pacientes já estão cheios de incertezas sobre a vida, um “up” no visual pode dar aquele gás a mais para que elas continuem a batalha e claro vençam.
Pensando nisso, em 2013 duas amigas Mariana Robrahn e Mylene Duarte tinham em mente um projeto de arrecadação de cabelos para doar a algum hospital ou instituição que trabalhasse com pessoas em tratamento de alguma doença no qual haviam quedas de cabelo.
Depois do primeiro passo, que foi conseguir a quantidade necessária, elas não encontraram nenhum hospital ou instituição que fizesse confecção de perucas, sendo assim, as duas decidiram que iriam fazer o processo e em menos de três meses entregaram a primeira peruca para Ana Julia de apenas 9 anos, nascendo a Cabelegria.
De outubro de 2013 até hoje, a instituição já doou 8.500 e fez a alegria de muita gente e o Instituto Pró-Diversidade bateu um papo com a Mariana Robrahn uma das fundadoras para saber como funciona o processo, como doar, como Cabelegria está se virando nessa pandemia (sim ainda estamos em uma pandemia), e outra curiosidades. Confira a entrevista:
Qualquer pessoa pode doar os cabelos, mesmo que eles estejam com química? E qual é o tamanho mínimo para doação?
Aceitamos todos os tipos de cabelos, inclusive com tintura. O tamanho mínimo é de 20cm. Importante: Amarrar bem firme o cabelo antes de cortar para não correr o risco de soltar. Não armazenar o cabelo molhado, pois corre o risco de molhar. Cortar o cabelo em sua forma natural (sem escova ou chapinha).
E como enviar a doação?
Existe pontos de coleta ou onde possamos ir cortar o cabelo e entregá-lo? Para enviar é bem simples é só colocar nos correios com o endereço abaixo: A/C Cabelegria | Caixa Postal – 75207 | São Paulo/SP | CEP. 02415-972. Somente esses dados são necessários para o envio pelos correios. Quem quiser levar pessoalmente pode contar com alguns pontos de coletas, os endereços e horários de funcionamento podem ser encontrados em nosso site (www.cabelegria.org)
Como funciona a confecção das perucas?
Assim que o cabelo chega até a Cabelegria, fazemos uma triagem dos cabelos e separamos por cor, tipo e tamanho. Levamos os cabelos até nosso ateliê de costura, onde nossa costureira monta as perucas. Para fazer uma única peruca, precisamos de 3 a 6 doações de pessoas diferentes. Após a peruca pronta elas são escovadas e higienizadas, só então a peruca está pronta para ser doada.
Quem são beneficiários?
Qualquer pessoa pode receber uma peruca? Qualquer paciente que possua qualquer patologia que tenha como sintoma a queda do cabelo como: pacientes em tratamento oncológico, pacientes com alopecia, mulheres escalpeladas ou que tiveram queimaduras no couro cabeludo, entre outras. O processo de doação de perucas é bem simples, o paciente preenche um formulário em nosso site encaminha a documentação, iremos realizar o cadastro desse paciente e depois enviar a peruca, sem custo algum.
A pandemia afetou os serviços do Cabelegria?
De certa forma sim, pois todos os nossos Bancos de Perucas fecharam, o que intensificou bastante a solicitação de perucas através do e-mail para o envio pelos correios, atendimento que não foi suspenso. Passamos de 20 envios por mês para cerca de 70 a 80 envios de perucas. Com isso o custo também aumentou muito. Mas o que mais nos preocupa hoje são os eventos que realizamos anualmente no mês do outubro rosa e que esse ano, provavelmente não acontecerá, esses eventos são responsáveis por 60% de nossa captação de recurso financeiro anual. Estamos programando algumas ações on-line, e-commerce e outros produtos para tentar suprir a falta dos eventos.
Nesse tempo em que você está à frente do projeto, teve alguma história que te sensibilizou?
Teve um caso que nos sensibilizou muito em 2017. Estávamos com nosso Banco de Perucas Móvel na Santa Casa de São Paulo, atendendo as pacientes que realizam tratamento oncológico no hospital. Uma paciente entrou no Caminhãozinho aos prantos, dizendo que havia saído da consulta com o oncologista que disse que teria que fazer a quimioterapia e ela disse que não faria pois não queria ficar careca. Disse que não conhecia a ONG e aquele era um sinal para ela não desistir de seu tratamento. Naquele momento percebemos o quão importante é a doação da peruca.
Além de doação de cabelos, quais são as outras formas de ajudar a manter a Cabelegria?
Hoje a Cabelegria conta com um estoque de mais de 2 toneladas de cabelos, nossa missão é conseguir recurso financeiro para transformar todo os cabelos que recebemos em mais de 100 mil perucas. As pessoas podem nos ajudar com doação financeira, que pode ser mensal ou pontual através do site https://doe.cabelegria.org ou comprando um de nossos produtos em nossa lojinha online https://lojinha.cabelegria.org
Sabemos que muitos não estão prontos para enfrentar uma doença tão pesada e a auto estima acaba abalada nesse momento difícil, além de vocês fornecerem a peruca existe algum tipo de apoio a quem está em tratamento?
Infelizmente hoje ainda nos limitamos a doação da peruca. Temos um projeto que pretendemos lançar até o segundo semestre de 2021 onde prestaremos um atendimento multidisciplinar para os pacientes que atendemos.
Deixe uma mensagem final e/ou um desabafo para quem está lendo.
Gostaria de deixar uma mensagem a todos sobre a importância da doação financeira para organizações do terceiro setor. Em nossa trajetória, encontramos com diversas organizações que passam pelo mesmo problema.
A cultura de doação financeira no Brasil ainda é muito baixa, de acordo com um levantamento divulgado pelo IDIS (Instituto para desenvolvimento social) em 2018 de um total de 146 países pesquisados, o Brasil ocupa 122º posição. As organizações precisam de recursos financeiros para sua sobrevivência e também para expandir seus atendimentos.
Já me deparei com frases, inclusive de amigos meus, que preferem não fazer a doação financeira por não confiar nas organizações. Vejo algo muito grave nessa afirmação, pois muitas pessoas acabam generalizando o trabalho sério de muitas organizações, por algumas que caíram em escândalos de lavagem de dinheiro.
Se posso aqui deixar uma dica, a mesma que deixei para meu amigo: Procure uma organização que você se sinta confortável em ajudar financeiramente, visite, marque uma conversa, busque informações da organização. Existem milhares de organizações que tem um trabalho muito sério, que fazem a diferença na vida de milhares de pessoas e que fazem questão de ser completamente transparentes.
Se interessou? Para ajudar e mais informações acesse: cabelegria.org.
Por Anderson Andrade
para a coluna Entrevista
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