Balada Delivery – A nova vida noturna

A visão de quatro DJS sobre os efeitos dessa pandemia

Por Anderson Andrade.

Junho mês do orgulho LGBT e nessa altura do campeonato, já teríamos passado pela maior parada do mundo e as festas temáticas durante esse mês praticamente dobram, mas desde que o primeiro caso de covid-19 foi anunciado aqui no Brasil acendeu um alerta que acabou se confirmando, entramos em quarentena e nada do que foi programado desde março aconteceu e os serviços não essenciais pararam e acabou deixando muita gente na mão.

De uma hora para outra quem trabalha com eventos e na noite se viu sem trabalho e sem salário já que para muitos essa era a única forma de renda. Batemos um papo com 4 personalidades da noite: o DJ André Pomba, a DJ e produtora de eventos Cris Villela, a DJ, produtora cultural de eventos festivos, figurinista e caracterizadora de audiovisual Libra e o DJ Tonyy para descobrir como elas estão virando durante esse período em que as baladas não estão funcionando e também o que eles esperam pós-pandemia.

DJ Tonyy em sua live Mi Casa Su Casa

Para o DJ Tonyy, que tinha uma residência quinzenal com duas festas na Laundry Deluxe, além de tocar na Eagle São Paulo e produzir eventos corporativos, a chegada da pandemia e da quarentena foi recebida com tristeza, pois, apesar de se considerar um cara sempre otimista, foi muito realista e logo viu que a sua profissão não era um serviço essencial e que seria profundamente afetado. Para ele “O entretenimento noturno, em seu antigo formato, não será o mesmo até que se tenha uma cura para essa doença, e durante esse período com certeza a imensa maioria dos estabelecimentos vão fechar. E muitos de forma irreversível.”

Dj André Pomba tocando na famosa festa Grind, no Espaço Desmanche

Já o DJ André Pomba na ativa profissionalmente desde do ano 2000 quando tornou a atividade como sua forma de renda primária, recebeu a notícia, segundo ele, de forma tranquila, mas achava que seria por 30 ou 60 dias no máximo. “Nunca imaginei que seria tão pior do jeito que estamos hoje.” Pomba que é um nome forte na noite paulistana tocava regularmente no Desmanche, Yacht, Eagle, Sputnik, sempre de 2 a 3 vezes por semana, em média.

DJ Cris Villela é residente na Nova Bubu

A DJ Cris Villela que é residente na Bubu Lounge, do Bardagra entre outras festas que era sempre convidada para tocar e que segundo ela estava com a agenda bem agitada e com várias datas, além de eventos marcados e de projetos que estavam para ser lançados. O início da quarentena para ela foi desesperador, e diz que surgiu o medo e a ansiedade, pois como produtora de eventos e DJ seu trabalho seria o último a voltar, então está tentando manter o equilíbrio durante esse período de transição..

DJ Libra agita a noite em Recife/PE

A DJ Libra que mora em Olinda e está no circuito há 4 anos e residente das festas Nbomb, do projeto de rua Batestaca e também produtora do selo Scapa junto com Anti Ribeiro e Biarritzz, conta: “Foi bem desesperador no começo. Foi uma pausa muito brusca pra quem trabalha em aglomerações, mas as lives me ajudaram bastante em manter uma rotina e não deixar esse tempo todo em casa ser perdido”.

Mesmo nestes tempos difíceis em que as pistas de dança estão fechadas, as “lives” se tornaram uma saída para eles poderem continuar mostrando seu trabalhando, recebendo e claro levar entretenimento para aqueles que estão em isolamento social, o que está sendo uma experiência muito boa nesse quesito.

“Tenho feito várias, algumas pagas, tem sempre sido muito positivo, as pessoas em casa bebendo e se divertindo, em boa parte saudosa por uma boa pista”, diz o DJ André Pomba.

Já para a DJ Cris Villela as lives tem sido “muito gostoso, ajuda a elevar o ânimo”. Ela diz que “a interação em tempo real, com as conversas acontecendo simultaneamente à transmissão, faz toda a diferença quando pensamos em compartilhar momentos, mesmo que de forma virtual”.

Tonyy conta que após um mês de isolamento, viu a oportunidade de se reinventar para conseguir uma fonte de renda rapidamente. “O mais difícil aceitar que eu não teria o contato físico com quem ouvia minha música, mas o jeito era encarar a realidade. E como sempre, tive que ser criativo para ter diferenciais diante da “concorrência”. Improvisei a parte técnica usando um home theater, uma controladora, alguns equipamentos básicos de iluminação que já tinha em casa para dar mais vida e tentar me aproximar da visão do DJ em sua cabine na casa noturna, e criei cenários diferentes a cada dia, com meu grande acervo de materiais de decoração que tenho armazenados aqui”.

De toda essa criatividade as lives acabaram viraram festas online que são Alive & Kicking!, que segundo o próprio “remete ao nome de uma música famosa nos anos 80 que significa ‘vivos e seguindo adiante”, algo que precisamos ter como meta mais do que nunca. Também comecei a ter mais duas formas de conduzir a festa. Numa delas, eu tinha DJ convidados virtuais, onde esse convidado faz uma seleção de músicas que eu toco, mesmo sem a presença dele”.

“A ideia principal desse formato é ter algo que eu sempre fiz em minhas festas, que é ter amigos brincando de DJ, mesmo que não sejam profissionais. Também vem servindo para ajudar outros DJs que não tem condições de fazer uma live, mas mesmo assim podem se manter ativos, mesmo que apenas naquela ocasião.”

A outra festa, o disc-joquey intitulou de “Mi Casa, Su Casa”, Tonyy a aproveita um recurso da uma plataforma digital, a Twitch.tv, que segundo ele  “permite que eu comece uma live aqui, e depois redirecione a imagem para que a transmissão aconteça vinda da casa de outro DJ, e quem está assistindo não precisa mudar de canal. Em ambos os casos quem assiste pode interagir por um chat”.

A DJ pernambucana Libra diz que está aproveitando para participar de festivais online como os Hyperpop (PB), Mamba Negra (SP), Fissura (BH), Cybershock (EUA EST) e que tem sido uma ótima experiencia. “tem sido bem interessante pra mim conhecer novos públicos e tocar em produções de outras partes do Brasil e Mundo. Se esse momento tem algum lado positivo, é a possibilidade das artistas e coletivos trocarem mais entre si nessa nova plataforma”.

Apesar de estarem ativos com as lives eles contam que ainda está complicado sobreviver durante esse período e que muitos estão recorrendo as doações espontâneas de frequentadores da lives, como é o caso do DJ Tonyy, já que a outra forma de renda que é a empresa de catsitter está parada devido as pessoas não estarem viajando e consequentemente não deixando os gatos aos cuidados dele e da sua esposa. A DJ Libra conta que está sobrevivendo de auxilio e de alguns trabalhos de audiovisual que surgem, “mas nada comparado a antes. Tá pesado”.

Cris Villela fala que irá começar a fazer projetos online com arrecadação para continuar vivendo de sua profissão.

Pomba fala que por sorte, possui um trabalho CLT como coordenador do Centro de Cidadania LGBTI da Zona Norte que é o que está garantindo o sustento dele nesse momento tão complicado.

Com relação ao futuro da profissão caso as coisas voltem a ser como antes o DJ Tonyy é o mais esperançoso, apesar de saber que será complicado a tudo voltar à normalidade ainda este ano diz que espera que o DJ volte a ser o que era quando houver uma cura.

O Dj André Pomba acredita que de certa forma nada será como antes, “pois, o setor de entretenimento e cultura foram os mais impactados nessa pandemia, mas creio que cada vez mais as plataformas virtuais como o Zoom se mostram uma boa opção”. Ele ainda acredita que “no começo, que espero seja ainda este ano, limitarão a quantidade de pessoas, indo afrouxando as restrições em caso de se achar um remédio/vacina ou imunização da população”. 

Para a DJ Libra “vai ser muito adaptado às restrições e uma nova rotina de trabalho em outros formatos, que já começaram a aparecer agora na quarentena. Mas é tudo uma dedução pra mim”. E ela espera que nada volte a ser como antes, pois, segundo a pernambucana o “antes o normal em vários aspectos era o problema. Mas espero que possamos tocar e trocar com as pessoas de perto como antes pelo menos”.

Mas tem gente que acredita que a profissão continuará igual, com os mesmos perrengues de quem escolheu ser DJ. “Acho que manterá como sempre foi. Quem escolheu essa profissão sabe que nossa carreira é muito difícil o reconhecimento e ainda mais difícil a manutenção nestes circuitos de festas e eventos mesmo antes da pandemia”. Fala Cris Villela.

Ainda segundo a DJ “certamente não será fácil, acredito que as festas que possuíam um grande público provavelmente levarão mais tempo para a reabertura, com isso as “lives” e festas online estão ganhando cada vez mais força no nosso segmento e trazendo novas experiências”.

Quanto a normalidade das coisas a produtora de eventos acredita que vamos superar tudo o que está acontecendo, mas na visão dela “jamais seremos os mesmos novamente. A pandemia do novo COVID-19 vai possivelmente nos transformar como sociedade para sempre. Acredito que os efeitos do novo COVID-19 serão duradouros, transformando hábitos de comportamento, convívio social, relações de trabalho, consumo, acesso a cultura, esporte e entretenimento, além de alterar a forma como estudamos e adquirirmos novos conhecimento”.

“Acredito também que as mudanças deverão se estender no tempo, tornando-nos mais reticentes a frequentar locais com maior concentração de pessoas. Apesar de toda esta situação e dos problemas que estamos enfrentando, tenho a esperança e a certeza de que vamos superar tudo”. Conclui.

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