Mário Sérgio Cortella disse numa palestra, que uma casa muito arrumada é uma casa triste. Eu concordo plenamente! Sou uma pessoa extremante organizada, não gosto de coisas fora do lugar. Se passo por algum tapete ou quadro torto, com certeza vou endireitar. Fico muito incomodada. Gosto de casa limpa, mas não sou bitolada em limpeza e arrumação, conheço pessoas que são. Perdem horas e horas do dia realizando essas atividades, eu não. Gasto meu precioso tempo com pequenos prazeres – assistindo um filme, série, fazendo uma leitura ou ouvindo música. Minha saúde mental agradece. O resto deixo para depois, jamais em primeiro lugar. Minha casa tem vida pulsante, não é um hospital.
Sabe aquela louça acumulada na pia, a mesa cheia de copos vazios após um encontro em casa?! Para muitos pode causar desespero, mas pra mim traz uma sensação de bem estar ímpar. Tão bom acordar no dia seguinte e ver que em casa teve “festa”, encontro, conversa e abraços. Saber que amigos e pessoas que nos querem bem de verdade estavam ali conosco celebrando a vida ou a amizade. Coloco uma música boa e vou organizando tudo calmamente e refletindo naquele momento que jamais irá voltar. Sim, ainda teremos muitos encontros em casa pela frente, mas aquele em específico que foi vivido jamais será o mesmo. No dia seguinte tudo vira memória. O coração fica grato por podermos receber, acolher e vivenciar o que não tem preço – o amor e a amizade.
“Uma das coisas que mais me entristece hoje é ver uma casa infeliz, e uma casa infeliz é aquela que se entra e está tudo arrumado. É uma casa sem uso. Você vai à sala e as almofadas estão no lugar, como se a revista Caras fosse entrar para fotografar, uma casa que não tem nada fora do lugar é uma casa morta. Onde há vida, há perturbação da ordem. Aliás, a paz não é a paz dos cemitérios, e a vida não é a do congelamento da criogenia. Vida é vibração, vibração é movimento molecular e nessa hora, a casa em ordem, é uma casa triste, é a casa que não se vive mais nela, para muita gente o lugar de estar feliz em algumas situações. Por exemplo, quando era criança, a minha festa de aniversário durava quinze dias. A minha e a de qualquer pessoa, porque era uma semana para preparar a festa. Era a família fazendo docinho, enrolando brigadeiro, fazendo coisas, fazendo sanduíches, colocado em lata, durava uma semana. E aí tinha festa no sábado, e durava mais uma semana para limpar, arrumar, guardar. Uma festa de aniversário minha durava quinze dias, eu era feliz por quinze dias, porque era lembrado, comemorado, era festejado. Hoje a festa de uma criança dura duas, três horas, que é o tempo em que se vai a um lugar estranhíssimo chamado buffet infantil, que não é de ninguém, é um motel pedagógico, uma festa às dez, outras às catorze, outra às dezoito. Não é a casa de ninguém, e eu vou embora. Dura duas, três horas, e lá se faz uma coisa incrível, para deixar as crianças felizes, olha que demência, se coloca um animador de criança, desde quando criança, precisa de animador? Se ela precisa, é porque ela está infeliz” – Mário Sérgio Cortella.
Também tenho essa memória afetiva da infância que Cortella relatou. Sinto até o sabor e cheiro de algumas coisas. Saudosismo oitentista que ficou muito bem lapidado no meu coração. Amo a bagunça gostosa das sobrinhas quando dormem em casa e amo ver os brinquedos do nosso filho de quatro patas espalhados. Façamos desses pequenos encontros únicos, pois um dia certamente se transformarão em memórias tatuadas no coração de alguém que não passou em nossas vidas por acaso.