Olha, confesso que é muito difícil conversar com vocês. Como jovem adulto, quando me interesso por algo, paro, leio e mastigo aquilo. É algo que a gente fazia na minha época (10 anos atrás, ok?).
Hoje está todo mundo tão viciado em conteúdos rápidos, que essa é uma 5ª versão do texto buscando resumir e garantir que você não tenha sono ao ler. O sono não vem só quando achamos algo desinteressante, está bem? Vem de um cérebro desacostumado a ler!
Então vamos ao assunto antes que você reclame que o texto está muito longo.
Quando eu era criança entre os anos de 1990 e 2000, o celular não tinha nada. Além de caro ele tinha a função primária de fazer e receber ligações. Qualquer coisa adicional a isso o transformava em algo incrível! Nem vou citar exemplos como ringtones, porque tudo que a gente não conhece, já julgamos ser pré-histórico. E não é, ok? Estou falando de 25 anos atrás. Só quero dizer que não tinha câmera de selfie, Facebook, nem mesmo Orkut (de 2004).
Sem brinquedos, sabe o que fazíamos para nos divertir? Criávamos histórias em grupo ou sozinhos. É como se fosse um RPG de temática livre. Ninguém precisava de um livro, tabuleiro ou peças para encenar nada. O roteiro acontecia enquanto brincávamos. Éramos super-heróis, bombeiros, policiais, cientistas, astronautas e magos. Voávamos, lutávamos, grandes explosões aconteciam e com mágica ressuscitávamos uns aos outros. Isso tudo com o poder da nossa mente.
Eu fui uma criança mais peculiar ainda, pois conversava com as plantas. Isso mesmo que você leu: Conversávamos, trocávamos energia, era uma coisa muito surreal. Tinham muitas árvores perto de casa e eu adorava falar com elas. Tinha a hora do desenho também (TV CRUJ, TV Globinho…), mas só conseguíamos ver se estivéssemos com a TV ligada na hora que eram exibidos. A internet não chegava em todos os lugares e mesmo que chegasse, não era rápida o suficiente para baixar vídeos. Por isso o streaming ainda nem existia (Netflix online em 2007).
E posso falar? A gente sabia sonhar. Como humanos somos muito bons em sonhar, mas paramos de exercitar. Não estou falando à noite, enquanto dorme. Estou falando em parar, olhar para o nada e materializar na sua cabeça uma história. Igual faziam (e espero que ainda façam) as crianças.
Com celulares e telas mostrando de pornografia a tudo que você buscar, todos estão desaprendendo a sonhar e construir mentalmente uma história e seus personagens.
Ser Deus, ser impérios, ser um novo mundo ou ser vários mundos. A quanto tempo você não sonha? Não seja capitalista, ok? Não estou falando em se imaginar rico cumprindo seus desejos de capital depois de ganhar na mega-sena, estou falando de construir novas dimensões com a mente.
Estamos na contagem regressiva para o mês da Diversidade e nós estamos parando de fazer isso: Sonhar. Não parem de sonhar. A gente precisa disso para manutenção da alma! Uma comunidade com diversos sonhos em algum momento vai transbordar em criatividade, esperança e vontade de fazer o mundo mudar. Topa voltar a sonhar?
Foto de Josh Hild
Respostas de 2
Acredito que isso acontece em grande parte não porque queremos, mas porque as coisas acontecem tão rápidas nesses últimos tempos que não dá tempo nem de respirar. São muitas músicas saindo, muitos livros novos, muitas séries, muitos vídeos e assim vai.
Como o capital nos lota de coisas para querer porque sim, ficamos perdidos e sem saber direito o que queremos, ao menos é a sensação que tenho.
É isso, Marcos! Pisar no freio, olhar para nós mesmos, para o outro e sonhar, é um ato de resistência em um mundo que insiste em transformar tudo em números e em performance.