Canta Galo Canta Rogéria
Uma transa com Rogéria
Não seria Transa de Caetano.
Uma transa com Rogéria
seria Galeria Alaska,
Les Girls.
Uma transa com Rogéria
não seria Transa com Caetano.
Ele leonino.
Ela geminiana, com ascendente em Leão.
Uma transa com Rogéria
seria Canal Livre,
Copacabana, calçadão.
Uma transa com Rogéria
Não seriam trezentos, nem trezentos e cinquenta.
Rogéria foi multidão.
Desde criança Rogéria entre em casa. Primeiro quando morava com meus pais. Entrava por meio dos programas de televisão, dos mais variados, mas poucos canais. Por meio dos programas de auditório.
Rogéria entrava em casa por meio dos programas de entrevista, onde não apenas ia divulgar seus trabalhos em teatro, como cantora, atriz e bailarina, mas ia lutar contra o preconceito de gênero e de identidade sexual.
Rogéria entrava em casa por meio da televisão para educar a gente, a família, do netinho ao vovô.
Era libertária e libertadora. Eram anos difíceis. Rogéria entrava em casa por meio de entrevistas educativas, divertidas, hilárias.
Penso que nos programas de humor também e, principalmente, em coberturas de carnavais. Na entrada do Gala Gay, chamado depois Gala G.
Travesti inteligentíssima, que sempre fez questão de dizer que não matara o Astolfo Barroso Pinto. Esse não era apenas seu nome de batismo, nem a condição de gênero em que nascera. Era o ser do mundo privado, que a mim, e penso aos outros, não dizia respeito, não interessava.
Rogéria nunca mais entrará em casa. A não ser por meio dos arquivos disponíveis na rede de computadores, nos eventuais sites em que há imagens e/ou vídeos, por exemplo.
Uma das últimas vezes que Rogéria entrou em casa por meio da televisão foi para divulgar um longa metragem que estrela, com direção de Leandra Leal, Divinas Divas.
Rogéria entrou para a eternidade como a Divina Diva que sempre foi.
Nelson Caruso, Rogéria e Grande Otelo
Crédito da fotografia: Coleção Nelson Motta. Acervo MIS