“Abra a felicidade.”
Esse é o slogan. E quem nunca tomou Coca-Cola no Natal que atire a primeira rabanada. As garrafas são vermelhas, combinam com os enfeites, com a mesa, com o comercial na TV cheio de neve artificial (em pleno verão brasileiro, detalhe). E é claro: com o próprio Papai Noel, que parece mais um garoto-propaganda da marca do que um símbolo natalino. Vamos falar a verdade? O bom velhinho é praticamente uma peça de marketing vintage.
Mas a Coca-Cola gelada, aquela de estourar o gás na língua, não está sozinha. Ela vem acompanhada de um monte de promessas. De que ali dentro tem alegria, mágica, amor, esperança — e, claro, felicidade. A ponto de você pensar que, ao abrir a garrafa, vai sair um gênio dos desejos com um sorriso engarrafado.
E não, antes que pensem: a Coca-Cola não está me pagando. Até porque eu não tomo Coca há uns bons 15 anos. Meu paladar aposentou essa fase junto com a ideia de que refrigerante cura ressaca ou desentope pia.
Mas vamos combinar: a Coca-Cola é bem pretensiosa. Essa coisa de achar que dá pra encontrar a felicidade numa garrafinha… é ousadia demais. Como se a vida fosse um comercial de 30 segundos onde tudo se resolve com um brinde. E, desculpa, mas felicidade é bem mais difícil de engarrafar. Ela escapa, evapora, não tem rótulo nem brinde promocional.
Vi um desses comerciais um certa vez: “Coca-Cola. Abra a Felicidade.” E eu, cética, pensei: Uhhhhh, será que eu encontraria a felicidade numa garrafa de Dolly? Pelo menos ali eu sei que meu nome vai estar escrito.
Falando nisso: você já achou seu nome numa latinha da Coca?
Mas, voltando… felicidade é bem relativa.
Pra uns é viajar, pra outros é tirar o sapato apertado. Tem quem ache no colo de quem ama, e quem procure na terapia. A gente vive tentando encontrar a fórmula mágica. E talvez cada um tenha a sua. Tipo a Coca-Cola — que, inclusive, nunca revelou seus ingredientes. Vai que a Pepsi descobre…
A verdade é que felicidade não se vende. Ela se vive. Às vezes escondida num pastel de feira, num trocado esquecido no bolso, num abraço que chega sem aviso. E a gente segue, cada um com sua receita, tentando encontrar a versão caseira do que o comercial vende.
A Coca diz: “Abra a felicidade.”
Eu digo: “Abra seus olhos.”
Vai que ela tá passando aí, bem na sua frente — e você nem precisa de gás.
Foto de Ron Lach