"Meu beijo querida, até logo, vou passar o fim de semana na casa dele…"
Assim tem sido minha rotina nos últimos anos, rotina esta que me torna muito feliz,
realiza meu lado masculino e também o meu lado feminino enfim um ser em plenitude depois dos 30.
Mas não pense que tudo sempre foi esse mar de rosas, houve muita adaptação para
caber todo mundo aí em seu devido lugar. Um longo caminho com psicólogos e terapeutas até finalmente eu conseguir concluir que eu de fato era Bissexual. E ainda chegar num consenso sobre esse assunto com minha esposa após 13 anos de casamento na lei civil e no religioso.
Ciúmes a parte o fato era que eu adorava meu casamento, não pretendia nunca me
divorciar e minha esposa também não queria isso. E eu havia conhecido um homem de cabeça feita, responsável, que aceitava o fato de eu ser casado e queria um relacionamento sério… “ui”.
Algumas oportunidades não batem a porta duas vezes e eu aceitei, eu e minha esposa
mudamos a nossa religião e nos aproximamos da Doutrina Espírita de Allan Kardec onde encontrei muitas explicações do porque isso acontecia comigo, inclusive uma realidade relacionada a experiências de vidas passadas.
Descobri na Doutrina Espírita que fui mulher em uma outra existência onde fui casada com o Reinaldo e homem em outra vida, onde tive a Flávia como minha esposa. E finalmente nos encontramos novamente nesta encarnação.
Relacionar me com um homem não fere meu lado masculino, tão pouco me relacionar com uma mulher fere meu lado feminino. Minha mente e meu espírito são versáteis ao ponto de permitir uma perfeita adaptação e união em ambos os relacionamentos.
Não que existam duas pessoas dentro de mim, apenas um mesmo espírito com diferentes experiências e vivências passadas. Interessante é que uma relação alimenta a outra, algo torna tudo mais apimentado (eles vão dizer que sou eu…risos) e ao mesmo tempo mais afetivo familiar e emocional. Exatamente do jeito que eu sempre quis.
Cada um com suas características peculiares. Minha esposa sempre calma tranquila e
silenciosa, onde posso descansar num sono profundo durante a noite e estar em perfeita paz interior. E meu namorado com seu jeito agitado, festeiro, alegre e apaixonante, virando minha cabeça do avesso e colocando meus sentimentos à flor da pele durante a madrugada. Daí a importância de fazer esse equilíbrio cotidiano para tornar tudo sem excessos e sem reclamações.
Ao mesmo tempo iguais e diferentes.
Obviamente existe muita diferença no toque das mãos de um homem e das mãos de uma mulher, mas olhando a fundo posso ver que o carinho o desejo a consideração e o respeito são os mesmos. Reconheço o Amor nos dois e não consigo mais fazer nenhuma distinção disto.
Quanto a convivência? Não posso querer que ele lave as minhas meias e cozinhe para mim seria exigir demais de um homem gay cisgenero com características de caráter extremamente masculinas. Mas aceito estar com ele segundo sua própria maneira de ser. Aprendi que entre dois homens aceitar o outro é aceitar a si mesmo, além da vida profissional que o Reinaldo tem como representante comercial que o faz viajar semanalmente e isso também contribui para o relacionamento dar certo. Quanto a Flávia, sempre dona de casa, acredito que o tempo que estamos juntos evoluiu e aperfeiçoou nossa convivência, hoje em dia dificilmente temos algum desentendimento, é como se um conhecesse tão bem o outro que aprendemos a evitar divergências.
Não, nós nunca saímos os três juntos para viajar, jantar fora ou ir em um bar ou uma festa, nem pretendo fazer isso, sei separar bem as coisas, os sentimentos, os momentos, cada um tem seu lugar e seu papel bem definido nesta história e isso não será mudado.
Não posso me casar duas vezes porque já sou legalmente casado, e as leis no Brasil não permitem contrair núpcias já sendo casado. Teríamos que ter uma legislação semelhante ao Islã para isso ser possível. Mas eu e o Reinaldo somos grandes parceiros, amigos e bonsnamorados, e “não necessariamente precisamos de um documento para amar”. Citação de Laura Pausini na canção “Nuestro Amor de Cada dia”.
Enfim partilho neste texto com vocês um pouco da minha vivência e da minha experiência em meus relacionamentos, e o sacrifício de ambos, minha esposa e meu parceiro para que esta relação se mantenha viva e ativa por muito mais tempo.
Grande abraço fraterno
Foto de capa por Magda Ehlers em Pexels.
Uma resposta
Por ser cisgenero geralmente sou paquerado por Bissexuais. Achei importante quando disse preservar o detalhe do seu namorado não lavar suas meias, por ser cisgenero! Muitas vezes, o dilema trans é deixar-se guiar pela construção social de que o homem bissexual que tenha esposa vá querer depilação e que fale “fino”: nada disso! Em 2018, um colega casado e pai pela segunda vez, disse que queria se relacionar comigo! Mesmo dia transamos e me penetrou com ereção como se conhecêssemos bem nossa anatomia e sincronismo de anus meu e pênis dele. Sermos cisgeneros e até eu ter a voz mais máscula e mais pelos, Não impediu de senti-lo “Maritalmente”! Setores diferentes o pessoal do meu setor meio que sentiu a sintonia nossa mas sem poder afirmar intimidades! Quando começaram a se revezar, passando um colega a concluir expediente comigo, ele na maior me oferecia carona e ainda dizia ao nosso colega que nos sondava se era ele ou ela que ficou comigo até a saída:)