Eu estava pensando cá com meus botões sobre essa questão do interesse pela imagem ao invés do som e só me veio à mente o fenômeno pop. Todo um movimento “musical” que ganhou espaço através da imagem e da sexualização das mulheres. O som passou a ser um evento secundário, de menor importância. Minha reflexão acerca disso é questionar sobre os personagens nos bastidores dessa indústria gigantesca. Veja, Maddona foi uma das pioneiras. Todo o aparato de sua obra era voltado para sexualização e em todos os eventos ela sexualizava tudo, só se falava sobre sua sexualidade. A música em si pouco importava. Tanto é que as cantoras pop começam com uma voz gutural, feia, com afinação imprecisa, mas sua imagem era impecável. Não consigo imaginar nada senão um homem por trás de cada cantora pop. Um homem agenciando um corpo sexy de uma mulher para agradar outros homens. Não consigo pensar um cenário que não seja fomentado pelo machismo. Claro, o tiro sai pela culatra quando o público LGBTQIAP+ se torna o maior consumidor desse conteúdo. Mas, será que esse consumo é consciente? Será que acontece uma reflexão crítica antes de consumir qualquer produto da indústria musical que é mais imagética do que sonora? Algumas cantoras passaram a estudar canto e progrediram muito depois da carreira lançada. Maddona mesma é uma delas. Acredito até que algumas que não procuraram um desenvolvimento vocal/musical se perderam no caminho e tiveram um fim de carreira precoce. Mas, ainda assim muitas que não progrediram mantiveram sua carreira. A imagem é tão mais importante que o som a ponto de não cantarem no palco, nos shows, porque, se tivessem de cantar, todos os problemas vocais e de afinação iriam aparecer. Um exemplo disso acontece com Kate Perry, por exemplo. Ela canta de verdade nos seus shows e por isso conseguimos perceber seus problemas de afinação. Apesar de pequenas falhas, acho louvável o seu trabalho. Ela é talvez a que menos apela para o desejo sexual na imagem, o que nos permite concluir o quão boa cantora ela é.
Sim, estou aqui expressando meu gosto musical dentre as divas pop, que é um gênero do qual não consumo muito, justamente por causa da baixa qualidade sonora que apresentam. Claro, os trabalhos de estúdio são sim muito bem-feitos, esse não é o meu critério de avaliação. Como eu trabalho com gravação de estúdio, sei que qualquer voz de qualquer lugar com qualquer imperfeição pode ser melhorada quase em forma de milagre e ficar interessante auditivamente. Uma boa direção de gravação consegue resolver muitos problemas gigantescos. Por isso, uso como base os shows ao vivo. E sabemos que Maddona não costumava cantar ao vivo em suas apresentações públicas (e eu gosto do trabalho dela e aprecio seu crescimento ao longo da carreira), assim como Britney Spears. Esta sim, nunca cantará ao vivo. Seu trabalho de estúdio é com tanto filtro na voz, nasalização, reverbs infinitos para disfarçar toda imperícia vocal que ela possui que fica difícil de acreditar uma execução pública real. Desculpem-me os fãs, mas estes só gostam dela por causa da imagem, eu tenho essa convicção. Outra artista que gosto bastante é Beyonceé. Ela veio de um trio vocal que cantava muito, muito mesmo. Aí está um exemplo de venda de imagem desnecessária, já que o material vocal é incrível. Por isso me pergunto: quem é o homem objetificador da mulher que está por trás da artista? Eu ainda poderia falar mil e uma coisas diferentes sobre o mundo pop, como o ar irritante que costumam fazer na voz quando tentam cantar suave, o que gera fendas e fendas nas pregas vocais e diminui a longevidade vocal.
Eu gosto de ser comedido nos meus artigos, mas este é um tema que realmente me incomoda. Eu quis ser bem direto e cutucar a ferida mesmo. Eu não suporto essa necessidade de priorizar a imagem em detrimento do som. Isso não acontece somente no meio pop. No teatro musical também. Vemos atores e atrizes medianos/as bonitos/as com a voz cheia de problemas estrelando nos musicais brasileiros: pouca projeção, afinação imprecisa, ar na voz etc. E a moda agora está se expandindo para as óperas que também inventaram de focar na imagem, cantores/as magrinhos/as com vozes não maduras o suficiente para a música de alta performance. Gostaria de saber mais de vocês se concordam/discordam. O espaço está aberto ao debate saudável.