Dia desses, estava pensando no poder que tem um olhar. Sim, podemos conversar com os olhos. Você pode guardar lembranças de conversas, promessas, sorrisos, abraços, tom da voz, da maneira que ela (ele) mexe nos cabelos, que toca o próprio rosto, que interage com os outros, das brincadeiras, do perfume, da maneira de se vestir, na forma de te abraçar, no jeito de se expressar, no toque. Mas, tente desvendar um olhar?! Têm olhares que a gente nunca esquece.
Você já viu o sorriso nos olhos de alguém?! A pupila dilata e eles brilham feitos dois vaga-lumes. O olhar pode revelar várias coisas amor, ternura, paixão, lealdade, desprezo, um pedido de socorro, tristeza, frieza, medo, pânico, alegria e dor, mas, tem aquele olhar que te despe de tão profundo e revelador. Esse é o tal olhar fatal/matador, que chega a dar um arrepio na espinha só de lembrar de quantas vezes que cruzei com olhares assim. São tão intensos que você pode até desviar, mas, quando você levanta a cabeça ele continua lá, como dois faróis, te alertando sobre “algo”.
Nunca se fez tão necessário sabermos interpretar um olhar, eu consigo decifrá-los até através das fotos. Tem aquele olhar que te responde tudo em silêncio, pois as palavras muitas vezes são totalmente desnecessárias. Têm olhares que ardem em chamas e conseguem brilhar no escuro implorando cama. Olhares mexem comigo, me desconcertam. Olhares alimentam a alma, conectam.
Alguns olhares ficaram marcados no cinema, como o olhar de medo de Marion Crane (Janet Leigh) na famosa cena do chuveiro em “Psicose”, o olhar sedutor de Catherine Tramell (Sharon Stone) em “Instinto Selvagem”, têm os olhares apaixonados de Jake Twist (Jake Gyllenhaal) e Ennis Del Mar (Heath Ledger) em “O segredo de Brokeback Mountain” e de Vivian e Edward (Julia Roberts e Richard Gere) em “Uma linda mulher”. Tem o olhar frieza da “Malévola” (Angelina Jolie) e o olhar autoritário de Miranda Priestly em “O diabo veste Prada”.
Vários cantores deixaram eternizadas dezenas de músicas que retratam o olhar, Marina Lima com a música “Pessoa”, Djavan com “Eu te devoro” e Patrícia Marx com “Espelhos D’Água”. O compositor Nando Reis com “Nos seus olhos” e “Luz dos olhos”, Leoni com “Garotos II – O outro lado” e João Gilberto com “Esse seu olhar”. Ivete Sangalo com “No brilho desse olhar”, Seu Jorge com “Seu olhar”, Ana Carolina com “É isso aí” e Tom Jobim com “Este teu olhar”.
Defino nossa “janela da alma” como uma mistura de fotografia, teatro, cinema e pintura. Quando as cortinas se abrem (pálpebra) começa o grande show (da visão), a máquina fotográfica foi inspirada no funcionamento dos olhos. Tão pequenos, mas, tão complexos que são compostos por delicadas partes: cílios, conjuntiva, córnea, coroide, corpo ciliar, cristalino, esclera, fóvea central, humor aquoso e vítreo, íris, mácula lútea, músculos ciliares e extrínsecos, nervo óptico, pupila e retina. É justamente por isso que conseguimos demonstrar tantos sentimentos através deles.
Quantas declarações foram feitas e desfeitas através de um simples olhar?! Quantos destes olhares ficaram sem resposta?! Quantos receberam sim?! Quantos se eternizaram?! Quanto você ainda os espera para lhes contemplar?!
Parafraseando Renato Russo, “a tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos, então me abraça forte e me diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo. Temos nosso próprio tempo, não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora”. Pode até parecer estranho, mas a felicidade tem olhos castanhos.
Até semana que vem!
Para ver mais textos de Daniela Houck, confira sua coluna Café com Respeito!
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Uma resposta
Poesia pura.