Uma das coisas que gosto de fazer enquanto estou preparando comida em casa é ouvir a um podcast chamado Não Inviabilize, um podcast que conta certos tipos de histórias em diferentes quadros que vão desde problemas relacionamento interpessoal até histórias de terror, e hoje eu estava escutando uma história do quadro Picolé de Limão chamada Liquidificador. Na história temos Pablo, um chef que adora comprar produtos de cozinha de preços mais elevados, e que dentre esses produtos, um deles é um belíssimo liquidificador de 2300 reais. Nosso personagem título vai retornar na história, mas agora temos de falar do amigo de Pablo que vive enfurnado em sua casa, usa de suas roupas caras e as danifica, pega seus tênis, diz que perdeu e quando está para ser confrontado ele fala para o amigo o seguinte:
Eu não vou ter essa conversa com você porque eu tenho depressão e isso vai me deixar mal.
A história continua até o ponto em que Pablo e seu namorado estão comentando sobre uma viagem quer irão fazer para ver o show da Beyoncé. Pablo e seu namorado pobres premium, se planejaram e compraram a viagem e os ingressos e estavam felizes da vida contando sobre a novidade. O amigo depressivo de Pablo que também era um grande entusiasta da cantora Estado Unidense não iria, pois não trabalha e não teria dinheiro para isso estava como sempre em sua casa ouvindo a conversa (E sendo incluído afinal geralmente amigos ficam felizes pelas conquistas dos outros amigos) e em meio ao papo pegou o personagem título da história de 2300 reais e ARREMESSOU contra o chão, quebrando não só o produto como trincando o porcelanato. Ao fazer isso ele disse.
Bom, você vai ver a Beyoncé, mas agora você vai ficar mais triste.
O namorado de Pablo queria arrebentar o rapaz, mas Pablo deixou quieto, afinal ele tem depressão, entretanto isso foi realmente a gota d’água e com isso ele cortou a amizade com essa pessoa. Ao perceber que dessa vez não ficou barato, o amigo mandou mensagem dizendo que fez o que fez porque tem depressão e ele ia ver a Beyoncé, e que o Pablo poderia ter comprado o pacote de viagem para ele ao invés de seu namorado, lembrando que o próprio namorado quem comprou e não o Pablo, e mesmo assim não houve perdão. Não contente o amigo passou a postar nas redes sociais que ele era infeliz e não queria viver porque o único amigo que ele tinha agora não falava mais com ele e as pessoas que veem os posts cobram o Pablo, mas sem saber o motivo disso.
Bom, a história termina para a gente por aqui, pois o ponto que quero focar está dado, então coloco a seguinte questão:
Até quando um problema de saúde mental, cognitivo ou de comportamento pode ser usado como desculpa para atitudes?
Com o aumento de pessoas fazendo avaliações para diversos casos como TDAH, autismo e uma maior preocupação com saúde mental, veio algo que precisa ser observado e até mesmo combatido, a banalização dessas questões e o uso delas para justificar comportamentos de caráter duvidoso. Antes se você falasse sem qualquer filtro da forma mais grosseira possível era porque você era uma pessoa autêntica e de personalidade, mas hoje isso pode ser um possível grau de autismo. Se você fosse alguém que esquece compromissos importantes, poderia justificar que era do signo tal, mas hoje é seu TDAH que não te permite centrar em coisas que não estão em seu hiper foco. Não quero fazer as coisas da casa porque tenho depressão a semana toda e assim vai. Esse tipo de ação vai encapsulando pontos que nem toda pessoa com autismo, TDAH ou depressão tem, porque crises são individuais. Em alguns certos pontos serão muito fortes, mas outros pontos serão mais simples de lidar e assim por diante, não existe uma pessoa autista padrão, inclusive eu vejo essa padronização como uma forma de evitar entender esses casos, sendo que cada caso é um caso.
Outro ponto é que não é porque você tem esses CID que você tem passe livre para fazer qualquer tipo de merda que quiser, investigar o CID é primeiramente para saber com o que está lidando e MELHORAR da melhor maneira possível. Nisso até a classe médica que só quer enfiar goela abaixo remédios para tudo sem tentar entender e ajudar a pessoa a ter uma vida menos dopada de medicação precisam ser combatidos. Não dá para se contentar em ficar sob efeito de medicações a vida inteira, a não ser que seja de fato necessário por falta de algo em seu corpo, do contrário precisamos lutar para melhorar nossa vida.
E quanto ao amigo da história que contei, tem um ponto que deixei para o final, porque é algo que ando vendo demais por aí. Ele não é diagnosticado, nunca foi em busca nem do diagnostico nem de um tratamento para melhorar sua situação, acredito que esse seja um caso para pensarmos se de fato a depressão é o problema ai não é mesmo?
Imagem de capa por Hayana Fernanda de Pexels.