Eu já caí no discurso falacioso, e ainda muito comum, de dizer que a Parada Gay de São Paulo perdeu o sentido de militância (tão famosa pelo volume de pessoas que reúne todos os anos na Avenida Paulista) “tornando-se uma micareta LGBT ou um carnaval fora de época”. De algum modo, esse discurso que emitia revelava ainda traços de uma LGBTfobia internalizada. Nesse velho discurso cabe a marca da deslegitimação política que atravessa o movimento LGBTQIA+ no Brasil, que procura brechas para calar direitos e vozes.
Dizemos com muita freqüência “que há muita promiscuidade, roubo, vulgarização e que assim nunca conseguiremos alcançar nossos direitos, pois não estamos nos dando o respeito”. É engraçado que, em muitas manifestações populares isso acontece, e nem por isso dizemos que as mesmas perderam o sentido. Há uma insistente necessidade heteronormativa de pegar uma parcela de um ato e totalizá-la.
O sentido político de uma Parada Gay vai além da velha palavra de ordem, jograis, cartazes e faixas, que também são necessários e úteis. Mas na Parada os corpos, os gestos, o beijo e o afeto é a nossa verdadeira ferramenta de revolução na avenida. Na Parada, a Avenida e as Ruas se tornam o local de vazão de tudo àquilo que fica escondido na noite, na marginalidade, e no esquecimento.
Do leather aos seios purpurinados e de fora da travesti, todos são instrumentos de questionamento político que conspira contra a disciplinarização dos corpos desse panóptico que vivemos. As cores, a gritaria, os exageros, os carões e colocações, todos são ferramentas de luta que arranham o fino verniz da hipocrisia humana.
São 364 dias no ano de muita resistência, omissão, silenciamento, violência das mais diversas que atravessam direta e indiretamente a população Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti e Trans e em contrapartida temos apenas 1 Dia de Manifestação de Nossa Diversidade. Por isso, meu bem, chega pra lá com sua limitação de mundo que meu corpo e meu afeto vão desfilar na Avenida com alegria e cor no próximo ano.
Por isso, meu bem, chega pra lá com sua limitação de mundo que meu corpo e meu afeto vão desfilar na Avenida com alegria e cor no próximo ano, já que devido ao cenário global da pandemia do covid-19 a Parada foi adiada para 2021 (saiba mais).
A Alegria também é política!
Para ver mais textos de Sérgio Lourenço, confira sua coluna Queer-se.
Entre em nosso grupo de WhatsApp Boletim Pró Diversidade e receba notificações das publicações do site.
Uma resposta
Eu sempre quis entender porque do demérito de alguns LGBT , sobre a Parada do Orgulho LGBT SP ou por outras paradas , lendo k seu texto entendi e concordo com ele.