Tenho o costume de ouvir música para trabalhar e como preferência a velha e boa MPB. E na semana em que o Brasil atinge o assustador número de 82.771 vítimas de COVID-19, eu ouvi a música Rosa de Hiroshima dos Secos e Molhados, triste e lindamente interpretada pelo grande Ney Matogrosso. Li também uma reportagem que fazia o paralelo entre os fatos históricos.
Primeiro devemos dizer que não são números, são vidas, famílias, amigos, companheiros. Só é preciso que você dê uma olhada no projeto “Memorial Inumeráveis”, que traz uma singela história destes “números” que o Brasil registra.
Com isso pensei no paralelo triste, mas inevitável que fazemos aqui. Hoje, nosso país é Hiroshima. A cidade japonesa bombardeada pelos norte-americanos ao fim da segunda guerra mundial que ceifou cerca de 70-80 mil vidas. A guerra é a ganância dos poderosos, dos interesses políticos e é brutal, sem dúvidas. Mas a indiferença também não é um mal quase irreparável?
A indiferença de parte dos governantes, principalmente do alto escalão do poder executivo (Sabe o inominável? Pois é) é diretamente responsável pela crise do corona vírus e a demora de resposta e medidas protetivas. Se há avanços, e graças a Deus está ocorrendo por aqui, é bem verdade também que tratar a pior pandemia da história como “gripezinha” daria em genocídio. Principalmente do povo pobre e periférico, que conta com um sistema de saúde muitas vezes colapsado
Fugir da responsabilidade ou culpabilizar outros setores é uma fraqueza de caráter que não cabe aos líderes. E também há a falta de sensibilidade por parte da sociedade que tem levado a vida “normal” como se isto fosse possível, como se não tivéssemos perdido mais de 80.000 brasileiros. Culpados também são os Digitais influencers, modelos, jogadores de futebol, gente da alta sociedade e gente vizinha nossa, o amigo do bar, o colega do trabalho, pessoas que furam o isolamento social porque estão estafados de ficarem em casa e não pensam nas pessoas que não estão em casa porque não podem, porque estão na linha de frente dos serviços essenciais. Tudo isto somado ao esforço descomunal de alguns governantes em transmitir uma imagem de normalidade, implica em mais dificuldades de vencer a COVID-19. A nossa crise é de insensibilidade.
E é medonho pensar, portanto, que o vírus ocasionou em um único país a quantidade de mortes de uma bomba atômica. Sim, uma bomba atômica caiu por aqui, a bomba do egoísmo, da indiferença, da inaptidão, da estupidez e da ignorância. E tal como a música fala, não podemos esquecer daquela rosa radioativa, estúpida e inválida. Peço também que não nos esqueçamos desta nossa ROSA, nem daqueles que perderam pessoas queridas pela indiferença a dor do outro, a indiferença pela vida do outro. Não nos esqueçamos: a nossa rosa é a da indiferença.
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