Então eu sou gay…

Então eu sou gay… Todos os indícios dizem isso. Mas o que é ser gay? Como é ser gay? O que significa isso? É uma vergonha? É um orgulho? Infelizmente nem todo mundo tem essa resposta de primeira, afinal vivemos uma vida tentando se adequar à heteronormatividade e atuando um papel que nem sempre é nosso.

Isso que dizer que tudo que eu vivi antes desse momento é mentira? Sim e não. A autonegação pode privar a gente de encontrar uma identidade própria, isso por que temos que nos adequar ao papel de bom filho, ao papel de melhor amigo, ao de um bom servo de Deus – nos casos que envolve religião – e ao papel de bom profissional. São tantas cobranças sociais que sufocamos uma parte de nossa essência e, às vezes, contamos algumas mentirinhas, em que até acreditamos, de como não somos gays. Mas nem tudo da nossa vida faz parte da atuação da heteronormatividade e leva tempo até saber o que é a nossa identidade e essa parte da minha história começa logo em sequência ao último texto.

Então vamos ousar. O que poderia fazer que era considerado gay mas que agora posso fazer? Vamos fazer luzes! Depois emagrecer. REGIME! Afinal preciso conquistar o bofe. Bofe, do pajubá Homem Bonito. Então vamos aprender ao pajubá. Seção de depilação marcada, cera quente. Barba alinhada. Dentes perfeitos, o fim da era do aparelho. São tantas cobranças novas na cabeça e pouca informação, pouco apoio e quase nada de representatividade, mas a gente se vira, o importante é ser perfeito.

É curioso como nos cobramos tanto para sermos perfeitos. No íntimo, eu me sentia um desastre, então vamos elevar nossas expectativas ao máximo para compensar. Vamos ser a melhor versão de nós mesmos para que todos esqueçam nossos “defeitos”. Nessa brincadeira eu emagreci mais de vinte quilos, mas ainda assim me sentia gordo. Foi a única vez na minha vida que fui magro, mas eu não me sentia magro. Cobranças, muitas cobranças!

Aí o gaydar dispara. Olha, acho que fulano é gay. Acho que ciclana é lésbica. Uma vez liguei para uma amiga lésbica, a Michelle, e comecei a tecer minhas teorias do arco-íris e falar dos amigos que eu achava que eram gays. Ela do jeito rude e fofo dela deu meu primeiro sermão: “Sabe que eu acho Dan, acho que você quer que todo mundo seja gay para que você se sinta bem! Você não precisa disso. Você não acredita em Deus? Ele não diz que não cai uma folha da uma árvore sem a permissão dele? Então, eu não acho que Deus me colocou nesse mundo sendo Lésbica para tirar sarro da minha cara. Eu nasci assim e você também! E você é perfeito da forma que você é!”. A Micha é a garota da foto, ela foi uma das pessoas mais importantes da minha vida, que me ajudou a entender quem eu era e sou. Hoje, mesmo sem ela estar mais aqui fisicamente, guardo esse amor e a gratidão dela ter feito parte da minha vida. (ps: isso bem foi antes da era Born This Way.)

Assim, segui de um amor a outro tentando me sentir completo. Amores intensos e ingênuos. Costumo dizer que vive dentro de mim um garota de 13 anos. Consigo até provar, é só ver o quanto sou parecido com minha sobrinha Giovanna que tem essa idade hoje (risos). Mas ainda assim com amores não correspondidos demorei um pouco para ter minha experiência homoafetiva.

Dei meu primeiro beijo da vida na minha festa de aniversário de 21 anos, naquele mesmo karaokê que a gente batia cartão. Foi com uma garota, nem sei o nome dela. Ela falou para meus amigos que queria me beijar eles fizeram a ponte. Um beijo intenso na pista de dança que eu não via a hora de acabar. Não senti nada. Duas bocas beijando loucamente e nenhuma empolgação. Enfim, ela ficou sem fôlego e disse que ia ao banheiro e eu sai à francesa e a ignorei o resto da noite.

Já o meu primeiro beijo com homem foi na semana seguinte. Combinamos com a turma de ir passar a tarde na casa de um certo Crush, o Paulo. Todos foram gradualmente desmarcando até que sobrou eu e uma amiga. “Déka, liga para ele e diz que tem um compromisso”. Feito. Fui eu sozinho até Taboão da Serra numa viagem interminável. Passamos a tarde cantando e conversando até que ele sacou o momento que eu estava vivendo e perguntou se eu já tinha beijado alguém. Um não tímido foi o que ouviu. O resto fluiu e ele soube lidar com a situação de cara inseguro, tímido e ingênuo que eu era. No beijo eu senti que não teria como eu fugir da minha natureza e que nunca seria feliz atuando num papel de homem hétero conservador que me exigiam. Foi uma primeira vez digna dos sonhos da garota que existia, e existe, em mim.

O crush não seguiu em frente, mas ganhei a coragem que me faltava para beijar estranhos em baladas (risos). Foi aí que troquei o karaokê pela Bubu Lounge. Lá eu conheci o cara que tive minha segunda vez, uma droga. Achei que como já tinha transado seria fácil, mas não respeitei meu tempo e me agredi. Lá também beijei a segunda garota e não senti nada. Também encontrei meu irmão numa das noites e tivemos nosso outing forçado. Alguns meses depois beijei o cara que se tornou o meu melhor amigo, o Cadu. Depois fiquei com o amigo dele, que se tornou meu primeiro namorando nos quatro anos seguintes… mas aí a gente conta outra dia…

Ufa! Uma história mais leve hoje (risos). Agora me conte suas experiências? Como foi sua primeira vez?

Por Dan Barroso
para a coluna C’est La Vie!