Contemplação!

Erica Naomi

Contemplar: Olhar atentamente, embevecidamente e demoradamente; admirar, apreciar: contemplar as estrelas no céu. Meditar em, refletir. Levar em consideração.

Nos dias atuais, em que olhar para o celular e para baixo e a rotina sem cor predominam e nos matam em doses homeopáticas diariamente, olhar para cima – literalmente – para o céu ensolarado ou enluarado é algo tão raro e surreal.
Onde estão as cores do arco-íris e da aquarela, tão brilhantemente cantadas por Toquinho em nossa infância (ops, década de 80)? Perderam-se por aí… Junte-se, também, o vício trazido pela tecnologia! Só não usamos o celular como papel higiênico porque as matérias-primas são completamente distintas!

Crianças vêm ao mundo e ganham brinquedos eletrônicos de pais culpados por não saberem como dedicarem a elas um tempinho precioso do seu dia. Consumimos cada vez mais porque nos falta algo dentro de nós, e suprimos este vazio para mostrar que o nosso dinheiro compra tudo, mas não o principal. Os centros de compras e as administradoras de cartão de crédito nos agradecem por darmos passos maiores que as pernas e fazer deles a muleta preferencial.

Diante dessa pseudo-felicidade material, onde ficam lembranças de dias bons, que eram tão coloridos e cheios de Vida, os joelhos ralados pelos carrinhos de rolimã, roupas sujas de terra, barro e coisas do tipo? Nalgum canto do coração, na memória afetiva, esquecidas num pendrive de cinco terabytes, num álbum de fotografias amarelado e que ainda traz um fio mínimo do que a Vida um dia significou? Nos tubos de filmes a serem revelados, porque não houve tempo hábil para tanto?

Não nos sobra tempo porque não desejamos que isso aconteça. Culpamos o tempo, sabemos que somos culpados por não saber administrá-lo, deixando de lado as pessoas que nos são tão raras e caras. Criemos tempo para nós, para tudo de que gostamos. Paremos por um instante, apenas para olhar para o céu, e não para baixo, já que o celular ocupa grande fatia de nosso tempo. Olhemos para o lado, peçamos licença: fones de ouvido nos fazem perder a educação, o hábito de falar e que ponhamos a intuição para funcionar. Demos um tempo, um dia, uma hora, e olhemos…para frente, para o alto, e permitamo-nos apenas contemplar, admirar, apreciar, esquecer que o fator tempo existe, e resgatemos aquele fio mínimo de Vida, outrora tão importante, e que hoje é apenas uma expressão delicada.

 

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