Atualidades

Raphaelly Bueno

Charlie Hebdo

“Sem precedentes”, “nunca antes na história”, essas entre outras exclamações foram usadas para adjetivar a marcha ocorrida em Paris em homenagem aos mortos no atentado ao Charlie Hebdo. Se fóssemos fazer algum tipo de comparação, se isto aqui cabe, poderíamos nos lembrar do ato ecumênico na Praça da Sé em homenagem à vitima da ditadura militar Vladmir Herzog, embora em número inferior de manifestantes, mas igualmente importante para a história do país onde ocorreu; A verdade é que em diferentes épocas do mundo e em diferentes lugares deste vasto planeta, pessoas saíram a rua para prantear e, ao mesmo tempo, protestar contra a morte de pessoas inocentes, vítimas de um governo repressor, de uma ideologia de superioridade ou, ainda, pelo extremismo.
Outro exemplo que cabe é os dos estudantes no México. Do jovem negro de Ferguson. Do dançarino DK, aqui no Brasil. Os exemplos estão aí. O que, então, o caso de Charlie Hebdo pode ter de diferente? A França que outrora evocou o lema de Fraternidade, Igualdade e Liberdade hoje é uma França dividida!
A islamofobia alçada a quase histeria coletiva pela a extrema direita evoca o velho mal da tal superioridade de um povo sobre o outro, talvez resultante do processo de colonização e descolonização. Fato é que o caso de Charlie Hebdo se torna o perigo para um país que vive o medo do terrorismo, é o argumento mais válido para expulsar os imigrantes do país, para sujar uma religião, uma cultura.  Usada pela direita e, infelizmente, por parte da esquerda, as charges que tanto contestaram a unânimidade burra, causaram discursos calorosos do que é certo ou não, do que é liberdade de expressão etc.
Aos da extrema direita, é necessário ouvir as autoridades sobre o assunto. A generalização não poder impor ainda mais terror a uma cultura já estigmatizada. Os que atacam e matam em nome do Islã, não o fazem pelo Islã, são extremistas que contrariam a própria religião.  O próprio Hamas condenou os ataques. Neste caso é necessário saber até onde vai a responsabilidade do Estado Francês.
Aos de esquerda que condenaram toda a mobilização em torno do “Je sui Charlie”, entenda que a liberdade de expressão impõe, de certa maneira, usar o humor como arma para lutar contra toda unânimidade burra, como dito. As charges de Charlie Hebdo não eram irresponsáveis, eram um dedo na ferida para todo extremismo que mora ao lado das ideologias. Não desrespeitava o sagrado, mas sim a profanação dos que dizem seguir o sagrado.
Há uma linha tênue entre opressor e oprimido. Aqueles que morreram pela liberdade de expressão, morreram para que o oprimido não se cale diante do opressor e não para que o opressor cale ainda mais o oprimido.

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