Entrevista com o Vampiro – A Série

Eis que recentemente, mais precisamente ontem, terminei todos os episódios da segunda temporada de Entrevista com o Vampiro, uma série que eu me pego pensando se recomendaria ou não a quem de fato interessar, isso porque é constituída de vários altos e baixos. As vezes lenta demais, meio morosa, porém as vezes com excelentes atuações que realmente emocionam (cena final da segunda temporada, e várias com a personagem Claudia). E parando para pensar, acho que é meio contraditório dizer que o mesmo motivo que não me faria recomendar essa série é exatamente o mesmo motivo que o faria recomendá-la. Explico melhor um pouco mais abaixo.

Antes mesmo sequer de começar a argumentar o que disse acima, acho que não precisaria apresentar a série, visto que o filme de 1994 por si só é um grande poster de divulgação, assim como a série de livros da Anne Rice onde a história dos vampiros Louie, Lestat, Armand e Cia se originaram. Uma das coisas que realmente me deixou feliz em saber que seria feita uma série de TV a partir dos livros foi que pensei: “Puxa, dessa vez eles terão tempo suficiente pra poder desenvolver os personagens.” E de fato isso se concretizou. Porque com essa série, eu me apaixonei por alguns personagens, odiei outros e passei a odiar alguns que amava. E a série não se preocupa em tomar o devido tempo para contar a história que precisa.

Retomando meu primeiro parágrafo, a contradição entre indicar ou não indicar essa série a quem possa, é que a não indicação vem devido ao ritmo da série ser lento demais, por exemplo, quando ela precisa estabelecer quem é o Louie, ainda como humano, no contexto em que ele se aplica, onde vive e tudo mais. Louie é um personagem triste, amargurado, que mesmo transformado se agarra a sua humanidade, não se alimentando de seres humanos, apenas de animais, o deixando num estado de fraqueza que beira o arrependimento. Por outro lado, a recomendação, positiva dessa vez, viria pelo fato de que essa liberdade artística de poder adaptar melhor a história, de forma mais livre, é primordial para estabelecer o próprio Louie como um narrador não-confiável, suas memórias são editadas por suas emoções, e isso é perceptível quando o personagem Daniel Molloy dá cortes precisos e jogadas na cara do personagem que ele está se deixando levar pela emoção e editando as próprias memórias a bel prazer. Houve mudanças na base do personagem, que agora é dono de um bordel, não mais dono de uma plantação, e negro agora, não mais branco, o que possibilita um contexto racial a ser discutido na série que não está presente nos livros. Ainda como fator positivo para a recomendação, eu diria que o visual da série é simplesmente ESTONTEANTE. As lentes de contato embora pareçam ridículas ao primeiro momento, são muito características em definir um estranhamento visual daqueles personagens que você está vendo, um lembrete constante de que eles não são humanos, mesmo que ainda extremamente poderosos quase com poderes de um Semi-Deus, eles são reféns das próprias emoções, ainda que as menosprezem, os deixando mais parecidos com os humanos com os quais coabitam.

Ainda falando do ritmo da série, é legal saber que essa adaptação, supervisionada pela própria Anne Rice, que escreveu o roteiro do filme de 1994 e que aqui também participou da produção da primeira temporada da série, e infelizmente nos deixou em 2021, possui essa liberdade de focar quando necessário em cada personagem e seus potenciais dramas. Mesmo parecendo repetitivo aqui, é algo que vale a pena mencionar, visto que Louie, Lestat e Claudia, precisam muito desses momentos individuais de tela e dos momentos juntos, isso é essencial para nos apresentar quão complexas são as motivações de cada um deles tanto separadamente quanto juntos.


Aqui aproveito a oportunidade para exaltar Sam Reid, o ator que dá vida ao vampiro Lestat. É apaixonante amar e detestar esse personagem, ele é debochado, é sincero, mas também manipulador, é sensível, mas bruto quando quer. É um personagem com tantas facetas, que posso imaginar que não seria qualquer ator que conseguiria fazer o que Sam Reid fez, já não consigo mais pensar em outro rosto para Lestat, senão o próprio Sam Reid.  O ator Jacob Anderson, também tem um peso grande como intérprete de Louie, mas Sam Reid o ofusca, pela grandiosidade do seu talento, repare que eu não disse que Jacob é ruim, muito longe disso, é que simplesmente os atores ao redor, assim como Assad Zaman, que por sua vez, dá vida ao vampiro Armand, são simplesmente sensacionais. É óbvio que eu não posso deixar de mencionar as atrizes Bailey Bass que interpretou Claudia na primeira temporada e Delainey Harris que a substituiu na segunda temporada façam trabalhos incríveis com a personagem. Confesso que fui pego de surpresa na segunda temporada quando vi que seria uma nova atriz, mas agora que concluí, até que achei interessante, Bailey dá vida a uma Claudia mais voraz, infantil e reativa e Harris já por sua vez, nos traz a faceta da Claudia com a mente adulta presa no corpo de uma criança. Há de se mencionar aqui que a idade da personagem foi alterada, nos livros Claudia tem 5 anos aproximadamente, e aqui na série ela está ali pelos seus 12 ou 14 no máximo. Isso é benéfico pois é uma idade em que essa sutileza de abandonar a infância e dar a entrada a vida adulta começa a ser mais crível e por sua vez gera infinitas possibilidades para a personagem.

Sobre a segunda temporada, senti que houve uma melhora em tudo o que já era bom. Com a introdução do -Thetre des Vampires- , personagens altamente detestáveis, e com ampliação da presença do vampiro Armand, tudo fica mais intenso, mais forte. Lestat que aqui seria justificado estar longe das cenas, se faz mais presente do que nunca nas memórias (e cenas também) contadas por Louie. Cabe aqui dizer que essas memórias são todas registradas por Daniel Molloy, o exato mesmo personagem que anos antes havia feito o primeiro registro das memórias de Louie. Fato que é considerado na série, a primeira entrevista, a que consta no filme de 1994 realmente existiu, e Daniel Molloy agora mais velho, mais doente, e também mais ácido e ousado em seus comentários dá o tempero necessário para manter a narrativa saltando entre presente e passado de forma a nos lembrar que são memórias, afetadas pela personalidade sorumbática do Louie.

Acho necessário adicionar um contexto de que o ‘universo imortal’ criado para as adaptações televisivas da AMC das obras de Anne Rice tem já disponíveis no momento a série Entrevista com o Vampiro e As Bruxas de Mayfar, que já assisti a primeira temporada e confesso que achei bem fraquinha, bem qualquer coisa mesmo. Com o fim da segunda temporada, já foi anunciada uma terceira série neste universo, chamada Talamasca, que aparentemente é uma organização secreta que monitora e contém seres como bruxas e vampiros. Ainda não conheço toda a série de livros, portanto, nenhuma ideia a respeito dessa organização Talamasca.

Finalizo esse texto chegando a uma conclusão de que sim, recomendo de fato a série, mesmo se você já tiver assistido ao filme, ainda se faz uma boa indicação principalmente de que aqui se trata de uma re-imaginação destes livros e confesso que estou muito, muito ansioso para uma terceira temporada. Atenção, há um spoiler MUITÍSSIMO FERRADO no vídeo de promoção da terceira temporada, aquele em que Lestat aparece sentado numa cadeira, só assista após terminar a segunda temporada. Você terá sua experiência do fim dessa temporada arruinada se conseguir pegar o spoiler.

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