O curta, com roteiro e direção de Guily Machovec, apresenta dois irmãos que experimentam uma difícil decisão após o falecimento da mãe. Caio é interpretado pelo ator Daniel Klepacz, enquanto Fábio Marostica interpreta Julio.
Caio vai até o apartamento onde a família viveu boa parte da vida. Julio ainda vive no local, no escuro, no vazio do luto. A conversa dos irmãos gira em torno da venda do apartamento. Caio, que já vive em outro lugar há um bom tempo, se depara com a mudança de decisão de Julio em relação à venda do imóvel.
A qualidade do texto é inquestionável. O filme poderia utilizar o caminho mais curto e apresentar o embate entre “o irmão bom vs. o irmão mau”. O filme destaca o interesse de Caio na venda do apartamento. E tem boa justificativa para isso. Mas, também mostra os motivos de Julio ter mudado de ideia.
“O Teu Lugar na Varanda” apresenta dois irmãos que simplesmente vivem o luto de formas diferentes. Um não quer vender o apartamento apenas pelo dinheiro, mas por encarar que essa página precisa ser virada. O outro, sente a necessidade de manter o local como sempre foi, como a casa da família. O diálogo dos irmãos mostra feridas que ainda não foram cicatrizadas; tanto em relação à mãe, ao pai e a eles mesmos. O diretor-roteirista soube lidar de forma muito sensível com o tema, fazendo com que o espectador não sinta pena de um e raiva do outro irmão. A competência do cineasta Guily Machovec faz com que o espectador, compreenda a dor que ambos enfrentam, embora a forma como demonstram essa dor seja diferente.
Se, no início, o espectador puder começar a sentir raiva de Caio, logo esse sentimento muda. Não é só Julio que tem coração e que sente mais a morte da mãe, embora tenha ficado ao seu lado nos últimos dias. Caio também tem coração e está suscetível a sentir as mesmas dores do irmão. E é nesse ponto que simpatizamos com ambos e torcemos por ambos.
Ambos sofreram com o abandono do pai. Ambos ficaram cuidando da mãe. Caio, suprindo as necessidades financeiras. Julio, lado a lado com ela. Sem a mãe, um só tem o outro. Um é a família do outro.
Julio até muda novamente de opinião e pede ao irmão que a imobiliária concretize a venda do apartamento. Talvez seja melhor assim. E talvez, Caio e Julio nunca tenham tido uma conversa como essa. Talvez, ambos nunca passaram a vida a limpo.
Pode ser que tudo mude na vida deles. E finalmente, mesmo com a perda da mãe, as outras feridas possam cicatrizar mais rápido. Talvez, a maior preocupação de Julio seja as perdas. O pai saiu de casa, o irmão foi trabalhar em outra cidade, a mãe morreu, o apartamento onde uma vida foi construída também seria perdida.
“O Teu Lugar na Varanda” tem um final arrebatador e genuinamente emocionante. O filme destaca pontos importantes nas nossas vidas. A necessidade de se ter alguém ao lado e saber que pode contar com aquela pessoa.
FICHA TÉCNICA
Direção: Guily Machovec
Roteiro: Guily Machovec
Gênero: Drama
País: Brasil
Ano: 2018
Duração: 9 minutos
Uma resposta
Das Histórias que conheço sobre herdeiro (a) que continuou morando no imóvel deixado como herança, em todas as três Histórias as pessoas viveram Infelizes! É como se perpetuassem a presença dos entes queridos nessa dimensão! Como definiu, em sonho, uma tia minha (desencarnada) sobre a casa da irmã dela: “que a sobrinha (minha irmã) mantém a casa numa espécie de mausoléu”! De fato, ela mantém o imóvel (excetuando a fachada e os cômodos que dão para frente do imóvel, junto com o quarto que era o dela) sem nova pintura. Quem é “místico” sabe que é manter como as paredes “segurando” todas as conversas que a família teve: amigáveis ou com atrito! Para a vida dos irmãos que já moraram lá, “representa” procrastinacao, isto é, a cada novo dia a sensação de não ir adiante, como se puxassem a camisa pelas costas, “travando”! Como fiz muita manutenção do jardim, atualmente a área é acimentada! São detalhes que poucas pessoas se ateem! Nós somos de família numerosa e o filme são dois irmãos, mas cada um, Independente do tamanho da prole, vem com personalidades diferentes; até gêmeos podem ter óticas diferentes, frente a caminhada existencial!