O conservadorismo e a educação

Acho que todos já ouviram críticas a professores, vindas de conservadores delirantes. Elas dizem que professores doutrinam crianças a serem LGBTQIAP+. Ou então, ensinam o comunismo, a perversão e a liberação sexual dos corpos. Já me disseram até que ensinam as meninas a fazerem sexo antes da idade apropriada. Esses delírios são parte de um discurso corrente. Não é verdadeiro, mas encobre uma série de verdades que deveriam ser mais bem conhecidas.

As escolas, notoriamente as públicas, não são centros de formação de esquerdistas, feministas, comunistas etc. Ao contrário. O que se pode constatar é que as escolas sejam, de fato, lugares mais conservadores. Mesmo que sejam espaços privilegiados de discussão de conheecimentos, a maioria deles formal e científica. As escolas são submetidas à vontade de governantes que precisam agradar aos seus.

Por isso, a escola tende a ser mais conservadora. Na verdade, há uma barreira quase intransponível dentro das salas de aula, quando se trata de abordar certos temas. Entre eles: sexualidade e política. Muitas vezes eles surgem espontaneamente e o professor pode se ver em situação delicada. Tem-se que saber como responder a perguntas sem ofender, sem criar pruridos religiosos ou culturais.

Isso porque as posturas científicas sobre assuntos culturais nem sempre é de verificação de verdades. Ao contrário. Ciência, religião, cultura, pontos de vistas pessoais podem estar em conflito. E a escola, no meio disso tudo, pode ter postura conservadora. Parte dela é oriunda do poder público ou das organizações privadas que a sustenta. Outra parte dessa postura conservadora pode vir dos próprios professores, suas crenças e limitações.

Nem sempre se pode ensinar o que seja necessário. Nem sempre o professor sabe escolher que opinião dar. São muitas variáveis. Obrigações curriculares, clima em sala de aula, número de estudantes. É possível se ensinar a verdade e orientar as futuras gerações num caminho mais ético. No entanto, a própria escola pode ser o primeiro obstáculo. Nem sempre a educação mira na formação integral do cidadão. Nem sempre as novidades que incluem a formação de novas identidades é bem vinda.

Quando o conservador delirante olha para a escola, ele teme o darwinismo do século XIX. Teme a liberação sexual da mulher, que começou ainda nesse século. Ele teme a liberdade sexual de mulheres e LGBTQIAP+. O conservador teme a vacina, a medicina moderna e sua capacidade de liberar o corpo humano de grilhões da religião. E ele não sabe como isso pode acontecer de fato, por isso teme a escola.

Imagem de AkshayaPatra Foundation por Pixabay

O conservador delirante, geralmente tem formação cristã fundamentalista. Mas não nos enganemos. Pessoas antirreligiosas também podem ter posturas conservadoras radicais. O conservadorismo não depende de crenças tais e tais. Mas da falta de conhecimento. Esse é o outro, e não menos importante, temor que os conservadores têm. Eles sabem o papel da escola em ensinar novidades científicas. Essas novidades desmontam a base de crenças conservadoras.

E ao buscar novos lugares, somem os anteriores, o poder circula. O conservador teme a circulação do poder. Por isso ataca toda e qualquer instituição que possa vir a promover isso. Por isso o conservadorismo também se organiza contra a democracia. A escola é só um dos seus alvos. Talvez o predileto. Talvez o que esteja, no momento, mais à mão.

As instituições educacionais brasileiras, quaisquer que sejam, são excludentes, aburguesadoras. São conservadoras, em determinada medida. E nunca podem ser consideradas exatamente libertárias. Mas o conservador delirante vê nelas um dos cavaleiros do Apocalipse. Ou a própria besta que emerge da terra. O medo é de tudo e de nada ao mesmo tempo. O conservador teme. Não importa o quê. Ele teme, em primeiro lugar. E continua temendo um mundo que não compreende.

A escola é um espaço que constrói em meio a conflitos. Um deles é o conflito de classes. O conservador delirante é o mais alucinados dos peões da burguesia. Ele faz uma espécie de trabalho sujo, sua ação é deletéria e antidemocrática. Mas deve ser tolerada, paradoxalmente. Porque não há espaço de tolerância para mentiras e ataques criminosos, na política. Muito menos na educação. Mas a utilidade política desse grupo o mantém existente e atirando para todos os lados.

A escola precisa melhorar e muito para que todas as críticas dos conservadores delirantes faça um mínimo de sentido. Mas tenhamos a clareza de que uma porta foi aberta na política brasileira. Ou seja, a porta infernal do conservadorismo delirante. Essa forma absurda de pensamento contamina a política, a educação.

Há conservadores delirantes dando aula nas escolas que eles atacam. Isso não alivia em nada a pressão. A escola que opta por se silenciar não consegue agradar ao conservadorismo. Porque o conservadorismo quer a ignorância para os mais pobres. Para isso, está disposto a fazer o que for preciso para fazer acontecer.

Enquanto houver delirantes, não haverá paz. Não há um ponto de conforto em que possamos coexistir todos: conservadores, liberais, esquerdistas, apolíticos. O conservadorismo beligerante, de fato, é uma espécie de cão de guarda das classes superiores. Eles não servem aos seus propósitos. A escola, sim, como quer que ela exista, sempre colabora com os projetos de outros. Mas deixá-la em paz, está fora de questão para quem nos governa.

Por Alex Mendes

para sua coluna O Poder Que Queremos

 

Imagem de capa: WOKANDAPIX por Pixabay

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