Um dia andava a lagarta pelos campos, quando viu uma formiguinha a trabalhar, trabalhar e trabalhar. Percebia que aqueles belos pedaços de pétalas roxas que haviam caído do pé de buganville, a forte formiguinha os carregava com enorme força, conseguindo extraordinariamente subir o tronco da árvore com muita destreza e tenacidade, como se conseguisse levantar trezentos quilos. Era realmente impressionante o trabalho daquela formiguinha.
A horas diáfanas passavam e lá estava a formiguinha e suas companheiras, descendo e subindo, subindo e descendo aquele tronco de árvore. Um observador diria estar as pétalas a caminhar sozinhas. Havia até certa beleza naquele no trabalho ordenado, sistematizado, sincronizada da formiga e suas companheiras. O olhar de longe dava a impressão que era um balé de pétalas lilases de bugainville; um olhar atento revelava uma fábrica de formigas a colocar tudo coordenado em força, presteza, energia.
Vagarosamente, a lagarta lenta e observadora prestava atenção no naquele trabalho, seguindo em direção ao seu casulo. Aos olhos dos outros era feia e desengonçada, por seu movimento leve e desajeitado. Enquanto caminhava olhava o céu, olhava as folhas verdes das árvores que contrastavam com o colorido das flores, douradas pelos raios do sol; ao olhar ela pensava: quando chegará o dia em que poderei sobrevoar o esplendor desse mundo? Sentir o perfume das rosas; ver o vento acariciar as pétalas, soprar o pólen para fazer outros jardins florirem? Quando?
Em dado momento a lagarta e a formiga se encontraram. E a lagarta lhe perguntou.
– Não paras para descansar? Para olhar essa pétala de flor com sua cor tão linda?
A formiguinha respondeu:
– Não, não tenho tempo. Preciso trabalhar. É para isso que serve a minha força. Trabalhar, estocar, armazenar! Quem vai criar meus filhos? Quando o inverno chegar, como vou sobreviver? Tenho que aproveitar o tempo, ele passa muito rápido, então preciso fazer o que sei fazer, da melhor maneira que possa.
A lagarta, ouvindo a formiguinha falar, disse:
- Mas não olhava a beleza da cor dessas pétalas que carregas com tanta força e destreza? Não procuras saber de onde vem estas flores? Por que elas são tão belas? Não vês o esplendor do sol e o raiar da manhã?
Ante tais indagações, a formiguinha trabalhadora perguntou à lagarta:
- E tu, por que andas tão devagar e desengonçada desse jeito? Não sabes que o mundo tem pressa e que é preciso trabalhar? Logo o inverno chegará!
A lagarta pacientemente respondeu feliz.
– Estou indo ao meu casulo, breve serei uma falena.
A formiguinha atarefada, ao ouvir a lagarta disse:
– Bobagem! O que vais comer? Como vais sobreviver? O que dirão de ti, sabendo que não trabalhas? O que nos dignifica é o trabalho. Nossa força é para ser usada para trabalhar, dia e noite, noite e dia.
A lagarta ouviu a formiguinha trabalhadora falar e seguiu com resiliência o seu caminho a pensar: Serei uma falena um dia. Como serei? Quais serão as minhas cores?
Qual será o tamanho de minhas asas? Como será voar? Hei de voar! De tocar as flores, de cheirar-lhes, hei de voar! Com essas reflexões entrou na escuridão do seu casulo, adormeceu e lá e ficou por muito tempo, à espera…
Com o passar do tempo chegou a hora de despertar. O casulo, por ele mesmo se fendeu, os raios de sol nele entraram e a antiga lagarta, agora falena, ouviu a voz do sol, a soar-lhe como um pai generoso que quer que sua filha conheça o mundo, dizer: Voa! Alegre, abriu suas asas, elas eram de laranja dourado, com pontos pretos e pequenas linhas amarelas, eram duas belas e longas asas, que se abriram levemente e começaram a bater para que a falena, enfim, tivesse o seu primeiro voo.
Ouviu de novo a voz imperante, sorridente e carinhosa do sol: Voa! Bateu suas asas e começou a voar. Tudo lá de cima era tão belo. O verde, as folhas, a relva, os bugainvilles, a majestosa copa das árvores, os pássaros que cantavam, as flores que ao vento tremulavam, como se dançasse. Lá do alto, olhou para baixo e viu, como um pequeno fragmento de pétala de flor de buganville descia, subia, subia, descia em um trabalho incessante, percebeu que era sua amiga, a formiguinha atarefada, a trabalhar, enquanto a borboleta, à procura do seu rosal, se punha, alegre e feliz, a flanar e o mundo admirar.
Mavetse Dionysopoulos
Uma resposta
Me fez lembrar numa ocasião de um segurado que Não havia cumprido os requisitos para Aposentadoria (funcionário de iniciativa privada); ele saiu e chegou um cidadão mantido até então pelos pais, nunca trabalhou, mas atendeu os requisitos para o benefício regido pelo LOAS, depois que ficou órfão (miserabilidade e idade)!!!