Então, um dia, você cresceu. Não apenas em tamanho, mas em responsabilidade e mentalidade.
Um dia, você não acorda mais apenas para ir à escola, e sim à faculdade, ao trabalho, ou à ambos.
Um dia, você não dorme mais no sofá e acorda na cama. Você dorme no sofá e acaba se obrigando a levantar e caminhar até o quarto, antes que suas costas travem no dia seguinte.
Um dia, você é grande demais para caber nos pequenos espaços da cama de seus pais, e fugir para lá quando tem um pesadelo não é mais uma opção.
E falando em pesadelos, monstros gosmentos correndo atrás de você não fantasiam mais suas noites de sono mal dormidas. Agora, você se mantém praticamente insone, atormentado por boletos atrasados, compromissos importantes e problemas para resolver.
O relógio não parece mais um objeto esquisito que custa a passar o tempo. Não. Os ponteiros agora parecem girar cada vez mais rápido, e de repente o dia não parece mais tão longo.
Apesar de às vezes acompanhar a sessão de desenhos na televisão ou ficar animado quando sai algum novo filme de super-herói, seus interesses mudaram um pouco. Talvez você tenha começado a acompanhar mais o jornal que uma maratona de Os Simpsons, ou se interessado mais por política que lendas urbanas (mesmo que, ainda assim, saia correndo pelo corredor ao apagar a luz).
Um dia, você percebe que oferecer um pedaço do seu lanche no recreio não é mais um caminho para cultivar amizades verdadeiras e duradouras. Ao contrário, começa a se perguntar se seus amigos são realmente seus amigos, enquanto dirige em direção ao barzinho no qual marcaram de se encontrar depois de meses sem se ver (puxa, a correria do dia-a-dia!).
E falando em dirigir, ah!, você agora é seu próprio motorista! Independência, liberdade… atenção. Você não pode mais colocar seus fones de ouvidos e dormir durante a viagem inteira, ou colar a bochecha na janela e fingir que está em um clipe melancólico qualquer. A não ser que queira acabar numa prisão que não seja as da festas juninas da escola ou amassar o carro que não é de plástico e muito menos pode ser pago com moedas de chocolate. E acredite em mim, você não quer.
Um dia, você percebe que não é mais criança, mas também não sabe exatamente quando deixou de ser. Por mais que você ainda goste de algumas coisas, boa parte delas você não gosta mais ou simplesmente não tem tempo para isso. Você aprendeu a apreciar os pequenos gestos das pessoas ao seu redor. Aprendeu a apreciar uma boa noite de sono, uma conversa à toa, uma taça de vinho bem servida. Aprendeu que a felicidade não é plena e inteira, mas sim pequenos fragmentos de estado de espírito que podem ser contínuos até quando permitirmos.
Um dia, você olhará para trás e perceberá que sim, você cresceu. E, amanhã, você há de notar ser um pouco mais crescido que hoje.
Permita-se crescer, mesmo que para isso você tenha que ralar o joelho algumas vezes…