Um dia
Por entre paragens
Caminhei, a me alimentar
De gafanhotos e mel silvestre
Seguia-me o cordeiro de Deus
Ao pé de mim, o pathos
A pior sombra
Que encontrei
O preconceito
Simulado de bondade
O ódio
Travestido na maldade
Condenaram-me
Por estar nu
Por ter nascido
Pleno de mim
Me quiseram
Amputar, mutilar
Cortar-me a cabeça
Colocá-la em uma bandeja de prata
Apagar as sete cores
De meu arco-íris
Tornar-me padrão
Eis que um dia
Sofri, resisti
Orgulhei-me, então
Na extremidade da cruz
Brotou um ramo de videira
O cordeiro transformou-se
Em uma pantera perfumada
A cruz tornou-se tirso
Elevado a céu aberto
O meu pathos?
Outrora visto como pecado
Agora, belamente
Iluminado
Transmutado
Transformado
Em vida, cor, calor
Me faz enfim gritar
Evoé!
Sampa/Brodella, 28/06/2021