Chegamos ao mês em que os holofotes se tornam multicolor, acompanhado de uma visibilidade efêmera e travestida de inclusão. Será que no final do arco íris podemos encontrar o pote do Orgulho que afirma nossa existência?
Junho é o mês do orgulho LGBTQIA+, mas confesso que meu orgulho em ser uma mulher trans/ travesti é diário, acompanhada da luta contínua por respeito e oportunidades no CIStema que mais mata manas e manos cheios de sonhos, simplesmente por não aceitarem a existência da diversidade.
Habitar em um corpo TRANSVESTI sem amarras impostas pela sociedade é libertador, porém com algumas limitações. Como dizia Nina Simone “Liberdade para mim é não ter medo”, infelizmente estamos longe de não sentirmos medo nesse país. As vezes me pergunto porque incomodamos tanto? Será pelo fato de vivermos nossa existência e sexualidade em totalidade? Provavelmente sim!
Por diversas vezes nosso arco-íris amanhece preto como a cor do luto, sem possibilidade de hasteamento da bandeira, a perda dos nossos pela execração é constante. Até quando nossas lágrimas irão abastecer o rio da intolerância? Até quando seremos o troféu em forma de sepulcro para essa sociedade desumana?
Desejo ações afirmativas em prol da nossa comunidade para além de campanhas colossais de comunicação, não queremos que tudo gire em torno de uma efeméride, existimos nos 365 dias do ano. Até então, não vejo empresas com planos anuais de diversidade, não me refiro apenas a contratação para bater uma meta, precisamos de medidas efetivas de participação e formação, há uma necessidade de assistencialismo, infelizmente viemos de acessos barrados tendo a margem como condição.
Para nossa comunidade, meu desejo é que possamos viver a militância de TRANSformação, confesso que estou cansada de aplausos gourmetizados diante uma bela frase de impacto, precisamos de coletividade. Desconstruir uma herança colonial, capitalista, burguesa, machista, sexista, homotransfóbica é uma tarefa árdua, mas não podemos desanimar, a mobilização é o primeiro passo de uma luta de bem comum, é a evolução da nossa existência.
A verdadeira militância está na simplicidade de cuidar do outro, na luta por um futuro onde possamos ser o que quisermos. Precisamos desnaturalizar a intolerância e o preconceito, precisamos praticar o cancelamento da autofagia que ronda dentro da própria comunidade, ser militante não significa competir pela dor, a lágrima não pode ser uma mercadoria.
Falar através de um corpo que dribla as estatísticas de vida é um desafio e ao mesmo tempo motivo de muito orgulho, aprendo diariamente com minha existência e reencarnaria mulher trans/travesti por diversas vezes, esse corpo me fez reconhecer a força através de uma ancestralidade divina, nesse corpo TRANSformo notas musicais em som de amor e acolhimento, e seguirei acrescentando fé e amor ao pote no fim do arco-íris, afinal são mais de 50 tons de orgulho em (r)existir. Sejamos força e engajamento o ano todo querides! Axé!