Hoje eu tomei um copo de leite com Nesquik antes de dormir. Durante anos eu tomava um copo de leite com Nescau antes de dormir às vezes até dois. Por que eu fazia isso ? Porque eu gostava de leite gelado, porque eu gostava do resto de pó no fundo do copo (hoje eu sei que contém principalmente açúcar) e porque eu gostava do gosto de chocolate. Um copo de achocolatado funciona para mim como confort food, ou seja, quando eu bebo um copo de achocolatado ou de chocolate quente eu sinto que tudo está bem, que não há nada a temer e nada pode me atingir. O Yakisoba que eu mesmo preparo é um dos meus pratos preferidos e ainda por cima é a confort food que mais faz com que eu me sinta alegre, feliz, diria mesmo que pleno. Eu sinto uma satisfação imensa comendo Yakisoba. Eu gostaria que todos provassem esse bendito prato em minha companhia.
Você que me lê com certeza come ou bebe algo que faz com que você se sinta muito bem : lasanha, estrogonofe, pizza, sushi, macarrão, chimarrão, vinho, café, chocolate (que é indiscutivelmente uma confort food), sorvete.
Seja um produto industrializado ou uma boa comida caseira, você com certeza consome algo que te deixa realmente satisfeito (a), que te faz esquecer até onde você vive e o quão difícil é resolver cada um dos teus problemas.
Eu gostaria que você parasse para pensar em quais são os teus confort food e os diferentes porquês de consumi-los, como eu fiz no início do texto. Com qual frequência você consome uma bebida ou um alimento que te deixa genuinamente feliz?
As respostas à estas perguntas pode indicar que você se viciou em uma determinada substância.
Mas Marcelo, o que é um vício?
Segundo o dicionário Michaelis, vício é um substantivo masculino que designa qualquer costume condenável ou prejudicial, um costume ou hábito persistente de fazer algo, uma mania, e, o mais importante, a dependência de uma ou mais de uma droga estupefaciente ou de bebida alcoólica, levando a um consumo geralmente incontrolável.
Eu particularmente não consumo Yakisoba ou achocolatado de modo incontrolável. Não tenho mania nem o hábito persistente de consumi-los, e o consumo não eu prejudicial nem para mim nem para os outros, logo não me considero viciado. Entretanto, eu consumia um produto quase todos os dias, de forma incontrolável e prejudicial à minha saúde e me sentia muito bem fazendo isso.
Eu achava que a Coca Cola era uma confort food necessária, que sem ela eu não conseguiria ser eu mesmo no dia a dia. Era como se eu estivesse sempre com um pé quebrado e ela fosse meu par de muletas.
Eu me sinto frustrado ainda hoje quando não posso tomar uns goles.
Eu não sou viciado em açúcar e muito menos em cafeína: eu amo o gosto peculiar da Coca Cola.
É muito difícil para um dependente falar da sua dependência, ainda mais publicamente. Todos meus amigos ou quem já trabalhou comigo sabe o quão dependente da Coca Cola eu sou. Faz um mês que não tomo refrigerante. Eu me sinto como se estivesse em uma cela de prisão na qual cada risco na parede representa um dia que se passou. Parece até que o tempo parou.
Ano passado eu consegui passar quatro longos meses sem tomar um gole sequer de Coca Cola. Eu comprei uma lata quando para mim todas as expectativas que eu tinha não seriam atendidas, quando o mundo que eu conhecia tinha mudado tanto que eu não sabia se queria continuar fazendo parte dele. E de uma lata, eu voltei a beber regularmente litros e mais litros de Coca para me sentir vivo.
Eu sei que você deve estar me julgando, entretanto eu não me importo.
Há um mês eu decidi parar de tomar refrigerante porque depois da bariátrica eu não poderei mais tomar, porque estava gastando um dinheiro que eu não tinha para comprar e também porque se eu me sentia satisfeito tomando um copo de Coca gelada por um lado, eu também sabia que era dependente pelo outro.
Eu amo ser alguém independente, dono de mim mesmo. Eu também sei da importância de respeitar as regras para obter resultados favoráveis. Continuar dependente da Coca Cola é, de certa forma, sabotar os meus projetos e ir contra os meus próprios princípios, por isso tomei a iniciativa de parar.
Psicólogos, nutricionistas, instrutores de academia, médicos, tantos profissionais e amigos já me disseram que eu precisava consumir refrigerante de forma moderada ou até mesmo deixar de consumir e eu sempre dei de ombros porque não havia chegado à conclusão do parágrafo anterior.
É essencial se convencer da importância de algo antes de querer mudar porque a mudança é desafiadora em todas as áreas da vida. Mudar fazer escolhas e renunciar, cair mas também aprender a levantar.
Caro (a) leitor (a), hoje eu falo sobre confort food e vício porque você pode ser dependente de algo e não saber, ou até mesmo saber e dar de ombros como eu fazia. O vício em cigarro, álcool e mesmo em outras drogas são conhecidos. Entretanto a indústria alimentícia fez com que o açúcar que é um poderoso aditivo estivesse presente em vários produtos, muitas vezes de forma dissimulada. Tem gente viciada em açúcar e não faz ideia.
Eu te convido a refletir sobre o que você vem consumindo como sendo confort food.
Será que a frequência do consumo e a quantidade talvez exagerada de certos alimentos ou bebidas não são indicativos de que você se viciou em substâncias prejudiciais à saúde?
Até que ponto você é mestre (a) do seu próprio destino?
Existem mudanças a serem feitas e de quais maneiras você pretende se organizar para fazer com quem elas de fato aconteçam?
Alguns profissionais podem te ajudar, porém eu notei que toda e qualquer vontade de mudar deve partir de nós mesmos. Mais do que sermos convencidos de que algo é bom para nós, precisamos agir de forma convicta para obter resultados satisfatórios. Isso vale para deixar de depender de algo mas também de alguém.
Foto de capa por Pixabay. Fotos internas por Marcelo Calandrim