Anos atrás um vídeo também compartilhei um vídeo que estava rodando nas redes sociais, onde um jovem numa fila (parecia ser uma lanchonete), fora abordado por um homem que estava à frente com uma mulher. O jovem negro, de boné e óculos escuros, foi afrontado pelo homem branco que portava uma arma de fogo. Um amigo comentou que não se tratava de racismo, mas sim, devido as vestimentas do jovem. Segundo a pessoa, se o jovem estivesse usando paletó, ele não seria abordado. Observei duas coisas: o racismo realmente existe (e isso não é novidade para ninguém), e os racistas geralmente fazem muitos malabarismos para “mascarar” o racismo.
Fiz esta introdução porque no curta-metragem “Preto no Branco” observamos este tipo de argumento. O filme dirigidopor Valter Rege mostra exatamente este tipo de situação.
No curta é apresentado Roberto Carlos, um jovem de 19 anos, manobrista num shopping, e que é acusado de roubar a bolsa de uma mulher. Com bastante movimento em frente ao local, Roberto Carlos corre, mas é abordado por dois policiais. Um dos policiais, mesmo também sendo negro, tem traços racistas, tratando Roberto Carlos como um marginal.
Roberto Carlos alega que estava correndo para não perder o ônibus, porém, tudo o que ele diz é insuficiente para comprovar a sua inocência. A cor de sua pele, erros do passado e, principalmente, ter um irmão traficante que fora morto, são argumentos para incriminar a criminalizar o jovem.
Tanto Roberto Carlos quanto a delegada, sabem que muito do que ele está passando é devido a cor de sua pele. A mulher assaltada, Isabella, lhe diz que para ser assaltante “só podia ser preto”.
Um dos investigadores que efetuou a prisão do jovem, vê em uma rede social o estilo de vida do jovem, dizendo para a delegada que conhhece “esse tipo de gente”, por causa de roupas, relógio, etc. Neste momtento entramos na questão do estereótipo que muito negros são vítimas – e que faz sentindo com a introdução que fiz. O próprio personagem Roberto explica: é a “sociedade de consumo”. A socidade de consumo faz com as pessoas queiram ter o que está na moda. Em se tratando de expor em redes sociais, já não rola mais a ideia de que vale mais “ser” do que “ter”, mas sim, o de “aparentar ter”, ou ainda, “aparentar ser”. Ou não acontecem casos de violência contra mulher, onde nas redes sociais o homem aparenta ser um ótimo marido, mas na vida real, inferniza a esposa?
O caso não é julgar uma pessoa pelo que aparenta ser nas redes sociais, senão cairemos na mesma armadilha em que o investigador caiu. Roberto alega que todos os itens que tem foram comprados com o dinheiro do seu trabalho. Mas assim, como milhões de jovens de pele preta, ele já tem uma enorme desvantagem numa sociedade onde o racismo é estrutural. O racismo estrutural deve sempre ser debatido, discutido, analisado. Se posicionar contra essa discussão e reflexão e tratar casos como o de Roberto como “casos isolados” contribui para que vários “Robertos” sejam acusados e prejulgados somente pela cor da pele.
E no filme fica a questão: Roberto alega inocência e Isabella, a culpa dele. Quem fala a verdade? Vale a pena assistir e refletir.
“Preto no Branco”, é um filme de 2016, com direção e roteiro de Valter Rege. Seu elenco conta com Marcos Oliveira no papel de Roberto Carlos, além de Carolina Holanda, Guilherme Lopes, Maria Bopp e Taiguara Nazareth.