Acho que não tem como fugir desse assunto, o BBB está em todo lugar, e confesso que me rendi ao programa desde a edição 20 do ano passado no começo da pandemia (que por sinal, as vezes me sinto voltando a 2020), e olhando pra tudo o que a participante Karol Conká tem feito, expulsando pessoas da mesa, excluindo, diminuindo outros e criando seu reinado ali, é impossível não sentir raiva, o papel de vilã é divertido na novela onde ninguém se machuca de verdade mas na vida real os problemas são outros.
Karol Conká é uma participante manipuladora, que causa intrigas e molda as coisas ao seu favor, usa da fama para conseguir manipular outros participantes que se acham “inferior” em popularidade que concordam com tudo o que ela fala, está sempre preocupada com seu estilo e em usar do deboche para afrontar os adversários, marca pesado em cima de quem está afim chegando ao ponto de assediar afastando o que na visão dela seriam as possíveis rivais no amor. Karol Conká sou eu e muito provavelmente você há 10 anos atrás! Sim meu caro leitor, todos nós já fomos a Karol principalmente na juventude, eu mesmo no meu ensino médio consumia conteúdos que me faziam ser assim, me inspirava em personagens como Regina Jorge, Sharpay Evans, Blair Waldorf, Jenny Humphrey, Santana Lopez, todo tipo de garota malvada que pudesse me inspirar, eu já exclui pessoas que não gostava simplesmente por não gostar, e não fiz isso sozinho, andava com pessoas que na época era igualmente tóxicas, chegando ao ponto de machucar a nós mesmos. Puxe pela memória, você também foi assim com alguém!
Eu lembro de ter sofrido um bullying pesado no ensino fundamental, e quando cheguei ao ensino médio entendi que a única forma de não passar por todo aquele sofrimento era me tornando alguém assim, comecei a passar para os outros uma segurança que nem dentro de mim existia, mas aquilo me fez ser notado, aos poucos fui fazendo amigos que se sentiam mais seguros comigo e fomos criando forças a ponto de sermos debochados em sala de aula, e fazer o mesmo que a Karol fazia com seus rivais, logo os professores gostavam da gente porque ninguém mais se aproximava deles ou a gente marcava em cima, os melhores lugar da sala eram nossos e no intervalo tocava as música que a gente queria. Esse vicio se espalhou para os locais onde eu andava na rua da cidade, encontrei amigas com a mesma falsa segurança que a minha, e formamos nosso próprio grupo de pessoas malvadas que mandavam e desmandavam em lugares, e isso chegou a um ponto onde a gente já machucava uns aos outros pra mostrar quem estava no controle, claro que nos afastamos, hoje somos adultos com consciência de tudo o que fizemos e vergonha de tudo que causamos, principalmente uns aos outros.
A Karol provavelmente, assim como eu, sente essa falsa sensação de segurança apoiada em tudo o que conquistou, aliado ao fato de estar confinada em um jogo onde o principal objetivo é eliminar seus concorrentes do programa, e sempre prova isso ao lembrar pra si mesma quem ela é, ela também tem medo da rejeição e das violências que uma mulher negra, rapper e mãe pode sofrer aqui fora, ela assim como eu e meus amigos do passado, tem o direito de aprender com os erros se envergonhar e pedir desculpas, se mostrar melhor depois de tudo, a Karol mereceu sim sair do programa com grande rejeição pra entender que suas atitudes foram erradas, mas não merece ser atacada aqui fora, nem a família dela merece isso, a grande maioria das pessoas que ataca, já foi como ela em algum momento, e aprendeu com os erros, e por isso hoje luta para que nãos e repita, mas ao atacar, se mostra fazendo aquilo que condena e se envergonha, nós não podemos ser pra Karol Conká, o que ela foi pro Lucas, nós devemos entender que ela já vai aprender a lição ao sair e se dar conta de tudo, e deixar que ela evolua como nós todos evoluímos.
Foto de capa por Jeffrey Czum no Pexels
Uma resposta
As circunstâncias nos deixaram muito desconfortáveis perante as maldades dos atores reais do BBB. Julgá-los passou a ser algo passível de interpretações mil, ao mesmo tempo em que vemos a imensa vantagem que privilegiados têm ali dentro de fizerem o jogo dos bonzinhos. Em escala mínima, o BBB mostra como as pessoas são vistas nos pequenos e médios grupos sociais. Podemos perceber quando questões de gênero são, de fato, importantes, quando o assunto é racismo. Pudemos perceber que militar pela igualdade social não significa exatamente se tornar alguém sublime, bom. Há maus em todos os cantos e só alguns merecem perdão. Eu acho isso tudo extremamente interessante, acompanho ao longe, porque não tenho muito tempo e paciência com todos os detalhes do programa. É um programa de TV tão legítimo quanto uma série ou qualquer outra coisa. Incomoda apenas os que desconhecem como funciona a cultura.