Reflexão:

Estou a duas horas em frente a este computador olhando para fora da janela o céu nublado das seis da tarde, observando o farfalhar das folhas das árvores sob o efeito do vento, acho que vai chover e eu aqui sentado a horas na frente do computador. Chuvas são legais, elas me acalmam, o tempo chuvoso é sempre sinônimo de nostalgia. Por um instante de descuido minha mente volta pra quando eu era criança na casa de uma das vós, está chovendo e eu estou deitado, todo coberto, no sofá da sala assistindo a reprise de uma novela mexicana qualquer. A vó tá preparando biscoito de queijo (sim, biscoito é salgado e feito de polvilho) com aqueles sucos baratinhos que têm sabor de infância, posso jurar que dá até pra sentir o gosto do biscoito molhado no suco de uva.

Retorno à realidade, tenho que me manter focado. Olho para a tela em branco e sei que preciso escrever algo, acho que deveria começar este texto falando sobre mim, mas é tão difícil escrever sobre algo que não se conhece e não quero cometer o erro de cair em velhos clichês, embora eles me atraiam. Poderia começar falando o meu nome, quantos anos tenho, onde vivo, mas acredito que estes descritivos não seriam suficientes para dizer quem realmente sou e porquê alguém deveria me ler. E por que alguém deveria me ler? As vezes escrevo crônicas e prosas que sempre parecem estar incompletas, as vezes versos e poemas sobre uma pessoa só. Escrevo sobre o caos que eu sinto, e o que eu sinto não é relevante.

Eu perdi as contas de quantas vezes já apaguei e comecei a reescrever este texto em que eu só deveria falar um pouco sobre mim, mas não aprendi a matéria de autoconhecimento na escola nem na faculdade, e Eu me parece um tema um tanto quanto impessoal demais. Como escrever sobre quem sou, se nem eu me conheço? Olho para fora da janela novamente, já são sete e pouco, mas ainda não choveu. As luzes da rua já iluminam o manto azul-marinho-escuro que se espalhou pelo hemisfério, “não é estranho que já seja dia do outro lado do planeta?”. O pensamento corre solto, me distraio outra vez e, mais uma vez, dou-me por inconcluído.

Foto de capa por Kristina Paukshtite no Pexels

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