Faz 10 meses que utilizamos as palavras pandemia, coronavírus, cloroquina, covid-19, máscara, álcool em gel, distanciamento social e mesmo protocolo cotidianamente. A gente não sabe nem quando e nem como viver como nós estávamos acostumados há milhares de anos será possível outra vez. Como dizia Darwin, a espécie humana, assim como as outras espécies terrestres, é capaz de se adaptar para continuar existindo e se reproduzir adequadamente. Mesmo que você seja adepto da teoria do Criacionismo, você há de convir que nós viemos ao mundo para avançar sob o amparo de Deus e que não estamos aqui a passeio.
Em comparação com as outras palavras que eu citei, nós empregamos a palavra incerteza de tempos em tempos. Os dias parecem todos iguais desde março passado. Por conta de ter que viver um terceiro confinamento em breve, o que no Brasil é chamado de lockdown, escrevo sobre a incerteza hoje.
A incerteza faz parte de todos os momentos de nossa vida. Por exemplo, quando fazemos uma entrevista de emprego, não sabemos se os concorrentes serão mais convincentes, mais qualificados ou talvez simplesmente mais simpáticos que nós. Quando pedimos uma pizza de uma pizzaria que acabou de abrir no nosso bairro, a gente espera que o gosto e a aparência serão bons, porém pode ser que venha sem recheio e queimada. Por fim, quando jogamos na Mega Sena da Virada, a única certeza que temos é que quem não joga, não ganha.
Não dá para saber o que vai acontecer a todo tempo. Ninguém esperava que um vírus seria capaz de contaminar tanta gente, em tantos locais diferentes de uma hora para outra, nem mesmo aqueles que foram eleitos para nos proteger. Tudo acontece por um motivo, mesmo que hoje não saibamos qual é. As coisas dão uma girada inesperada a todo momento, a incerteza nos aflige porque perdemos o controle que estamos acostumados a achar que temos.
A gente sai da chamada zona de conforto porque a incerteza, a escassez e a vulnerabilidade não são mínimas, mas máximas em períodos de crise como o atual. Especialistas dizem que em tempos difíceis nos tornamos mais criativos porque os 5 sentidos se dedicam a aprender com o mundo desconhecido. Eu tendo a concordar porque a maioria das pessoas vem sendo resiliente, ou seja, capaz de se adaptar às mudanças e resistir às pressões para poder superar as adversidades.
Ter objetivos e saber de qual maneira contamos alcançá-los é fundamental para nos sentirmos independentes e ser quem somos. Projetar o futuro nos impede de cair em tentações hoje. Infelizmente, a crise sanitária interminável faz com que nossos projetos sejam postergados ou até abandonados, reduzindo consideravelmente as possíveis margens de manobra. Estamos cobertos de razão ao dizer que sentimos impotentes, que perdemos o controle de nossas vidas. Se a incerteza faz com que tomemos decisões hoje que nos prejudicarão no futuro, porque queremos ser recompensados aqui e agora, é graças a ela que somos mais alertas e prudentes em tempos de crise.
É triste pensar que muitos de nós não conseguem mais ser resilientes. Tem muita gente que acorda com vontade de não ter acordado, muita gente está deprimida, estressada, ansiosa, pensando até em suicídio. O fluxo contínuo de informações negativas e catastróficas veiculado pela mídia todos os dias nos faz ter medo o tempo todo, o que, segundo especialistas, mina preciosos recursos físicos e psicológicos que são necessários para se manter saudável em um momento difícil como este.
Quando o futuro parecer ser tão sombrio e não conseguirmos pensar em nada mais além disso é necessário focar no presente, em quem somos hoje. Para isso, podemos nos questionar sobre o que fizemos até o momento, quais foram as boas e más ações que cometemos, como agimos quando ninguém está olhando, quais são os nossos valores, no que acreditamos sem levar em conta o que o outro pode pensar de nós. Saber exatamente quem somos hoje ajuda a projetar o futuro e a reinventá-lo.
Somos mais criativos em tempos de crise, podemos então solucionar os problemas que apareceram, aparecem e aparecerão, mesmo que a curto prazo pareça que nada vale a pena. Nós vamos um dia nos acostumar a esperar o inesperado. Não devemos sucumbir ao medo hoje porque o dia de amanhã chegará, temos que estar pelo menos saudáveis física e mentalmente para vivê-lo como se deve. Precisamos continuar tendo esperança de que a vida vai melhorar, agindo de forma responsável, não pelo outro, mas por nós mesmos. Não desista de você.
Fotos por Marcelo Calandrim