O Tio chegou…

Todo mundo tem aquele tio (ou tia) especial. Geralmente é aquela pessoa mais “descolada” da família e que foge dos padrões. É o tipo que na maioria das vezes sabe exatamente a palavra certa a se dizer e que acaba norteando as suas decisões. Em novembro de 2020 chegou na plataforma de streaming Prime Vídeo a produção original Uncle Frank (ou traduzido para o Português literalmente como Tio Frank).

O filme é narrado por Beth Bledsoe (Sophia Lillis), uma adolescente de uma típica família do interior americano, que tem em seu tio Frank (Paul Bettany) a inspiração para sonhar alto e desejar mais do que a sua cidade natal tem a oferecer. Num primeiro momento estamos em 1969 e acompanhamos o aniversário do patriarca da família, um homem repugnante e preconceituoso do tipo que muitos de nós já conheceu ou até mesmo conviveu (ou convive) e que exala uma masculinidade tóxica. Vemos que Frank não se encaixa nesse quadro familiar e isso atrai a atenção da jovem Beth.

Com um breve salto temporal, somos encaminhados para 1973, Beth está de mudança para estudar na Universidade de Nova York, aonde o seu tio Frank é um renomado professor de literatura. Não demora muito para que ela descubra o verdadeiro motivo para que Frank tenha saído da sua cidade natal e volte raríssimas vezes para visitar a família: Frank é homossexual e mora a anos com seu parceiro Walid (Peter Macdissi), fato esse que nunca havia sido revelado diretamente para a sua família.

Com a morte repentina do pai, Frank se vê forçado pela mãe a voltar para casa para o funeral. Frank e Beth embarcam para o que vai ser muito mais do que uma viagem de carro para a Carolina do Sul. Nós, querido leitor, embarcamos juntamente com os personagens no que se transforma em uma visita dolorida ao passado e a busca por tolerância.

As máscaras caem e cada personagem tem os seus defeitos expostos no devido tempo. Se hoje vivemos tempos difíceis na nossa incessante busca por respeito, o retrato que nos é apresentado da década de 70, em uma comunidade pequena e preconceituosa, acaba por provocar um desconforto ainda maior.

O filme coloca o dedo na ferida da sociedade numa época em que não apenas a homossexualidade era vista como um segredo a ser escondido, mas também a busca da mulher pela sua independência e seus direitos.

Com um elenco primoroso que entrega autenticidade em sua atuação, acho muito difícil que em determinado momento você simplesmente não simpatize demais com determinado personagem, enquanto crie uma repulsa em relação a outro.

O filme é dirigido por Allan Ball (conhecido pelo filme Beleza Americana), que em entrevista recente, afirmou que o filme tem um pouco da história de como saiu do armário e descobriu através da sua mãe que o próprio pai, já falecido na ocasião, tinha tido um “melhor amigo” durante a vida, e que acreditava que isso talvez fosse algum tipo de herança genética. Infelizmente, deixo aqui a minha única ressalva em relação ao filme, Allan decide resolver todos os problemas de forma rápida. Acredito que o enredo poderia ter soluções mais interessantes se entregasse um filme com uma duração um pouco maior. Fica aquele gostinho de “poderia ter falado um pouco mais sobre isso ou aquilo”. Mesmo assim, Uncle Frank se torna um filme obrigatório por nos mostrar um retrato de uma época e de situações que infelizmente ainda acontecem em pleno 2021.

Definitivamente Tio Frank não é o “Tio do Pavê”! Ele tem camadas sim, mas são de uma extrema densidade intelectual. 

  • Título: Uncle Frank
  • Direção: Alan Ball
  • Elenco: Paul Bettany, Sophia Lillis, Peter MacDissi
  • Duração: 95min
  • Gênero: Drama
  • Ano de Lançamento: 2020
  • País de Origem: EUA
  • Distribuidora: Prime Vídeo – Amazon

Respostas de 5

  1. Filme novíssimo! Isso é muito bom, sinal que a sociedade ainda tem muito a discutir e a aprender diante das tantas diferenças que o ser humano apresenta. Histórias de família sempre nos surpreende pq pensamos…”E se fosse na minha familia?” . Particularmente é exatamente isso que me pergunto, pois me coloco no lugar das personagens e seus conflitos e tenho buscar uma solução em desafios que ,por hora, não fazem parte da minha realidade. O título tbm é bem simpático e acolhedor. Valeu a dica, querido Alê!

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