Qual o maior mal que uma sociedade pode enfrentar? Claro que as epidemias, os desastres naturais e todo o sortilégio de infortúnios seriam as respostas mais corretas à questão, mas não estaríamos sendo fiel a verdade do que vem nos mostrando a história e as múltiplas consequências das ações humanas. Ao que parece a raça humana tem o dom de escolher seus próprios males.
O que assistimos ao longo dos anos nas aulas de história é que o verdadeiro mal sempre tem sido feito pela ação do ser humano e aqui não estou querendo ser piegas, mas você mesmo pode ser perguntar o que foram as duas grandes guerras.
A praga dos tempos são os loucos guiando os cegos, li esta frase em uma série recente que assisti e não pude evitar o soco na boca do estômago que senti e inevitavelmente me ocorreu um paralelo ao que estamos vivendo em nosso país. Ainda não pude evitar lembrar-me da genial obra de José Saramago “Ensaio Sobre a Cegueira”.
Estamos todos cegos ao ponto de confiarmos nossa autonomia moral, aquilo que cremos serem verdade e certo, em líderes messiânicos que estão preocupados apenas em manter o poder e o status quo da sociedade. Um líder tão cego quanto nós, com o imperativo da loucura, não tem a capacidade de liderança e nem a força de vontade para resolver os problemas que surgem, os males que são quase inevitáveis e por estarmos cegos aceitamos sem questionar.
É por isso que vemos tantas notícias que soam a piadas de mau gosto, beirando mesmo a ironia do absurdo. E não é preciso fazer um checklist destas notícias, estamos todos saturados de vê-las nas telinhas dos smartphones, quase nos acostumamos e isso é o perigo. Devemos mesmo voltar a um período de muita reflexão para não deixar de nos indignarmos com os absurdos, ou para falar com Casagrande e Milton, “ não aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal”.
O louco a que me refiro não é aquele que não aceita a dita realidade ou não aceita os padrões da sociedade e suas regras absurdas e por isso mesmo é capaz de desprender e ter uma vida quase transcendental, daquelas que os expoentes da Geração beat buscavam. Mas sim o mal encarnado no individualismo e na negação do outro enquanto também ser humano. Por isso, pelo menos para mim, acredito que o maior mal de uma sociedade são os loucos guiando os cegos.
Por Raphaelly Bueno,
para sua coluna Contraponto
Foto de Yaroslav Danylchenko no Pexels