Estamos próximos do dia de finados e Anne Frank escreveu em seu diário que os mortos recebem mais flores do que os vivos, pois o remorso é mais forte que a gratidão. Ela tem toda razão!
Não sei quem é o autor, mas li recentemente que os seres humanos são tão estranhos porque brigam com os vivos e dão flores aos mortos. Passam muito tempo sem falar e quando morrem prestam homenagens. Não arrumam tempo para visitá-los, mas ficam o dia inteiro em velórios. Não chamam, não abraçam, mas lamentam um homem morto. O autor dessa reflexão tem a impressão que a morte é mais valiosa do que a vida. Eu também tenho.
Memórias póstumas só são válidas se em vida o (a) falecido (a) soube que foi querido (a) de verdade, se não nada adianta. Bom, minha opinião! O ser humano é realmente um bicho esquisito, não seria mais fácil demonstrar sentimentos em vida?! Sem dúvida é muito mais gostoso essa troca de sentimentos e gentilezas.
A humanidade é egoísta por natureza, muitas vezes não ajuda, mas quer ser ajudada. O ser humano adora “regar” flores plásticas – flores que não florescem.
Gostaria muito de passar o dia dos mortos no México, acho linda aquela festa toda e o respeito que eles têm pelos seus antepassados. Óbvio que eles ficam tristes quando alguém morre, mas no dia de finados não ficam melancólicos como aqui no Brasil. Lá eles acreditam que os mortos devem ser recebidos com alegria e preparam coisas que as pessoas falecidas gostavam. Capricham nas cores, música, comida e bebida. Iria adorar essa festa toda para mim (risos).
Recomendo a animação premiadíssima e ganhadora do Oscar de Melhor Filme de Animação (2018) “Viva – A vida é uma festa”, que retrata a importância dos valores familiares e como é a celebração do dia dos mortos no México.
Lembro enquanto criança que não podia ouvir música alta nesse dia como forma de respeito e alguns colegas não podiam nem sair para brincar. Sempre questionava sobre quem havia nascido naquele dia. Essa pessoa não poderia comemorar seu nascimento como todos nós?! Isso sempre martelava na minha cabeça. Amadurecemos, evoluímos e percebemos que nem tudo que nos ensinam tem que ser seguido à risca.
Conheci uma pessoa que comemorava seu aniversário sempre no dia seguinte, eu achava o cúmulo do absurdo, mas cada um com suas superstições. Tinha uma tia que rigorosamente todos os anos, no dia dois de novembro, fazia seu ritual logo cedo – comprava flores, velas, limpava toda placa de bronze do túmulo do seu único filho que havia falecido ainda jovem (eu não o conheci) e fazia sua prece em silêncio.
Muitas vezes, eu e meus irmãos a acompanhávamos no cemitério e ela nos ensinava todo o ritual dizendo que teríamos que fazer o mesmo quando ela não estivesse mais aqui. Nunca fizemos. E um fato curioso, quando foi feita a exumação de seu corpo, estava intacto e ela teve que ser cremada. Acho que ela foi a única pessoa que conseguiu a proeza de ser enterrada e muitos anos depois, cremada.
Respeito todas as crenças, cada um com a sua maneira de elevar seus pensamentos para aqueles que não estão mais entre nós. Alguns “recados” chegam ao remetente e isso me basta. Acredito que não precisamos de uma data específica para sentir saudade ou lembrar de quem amamos. Aproveita e preste a sua “homenagem” enquanto as pessoas estão vivas, muitas delas esperam por isso. Acredite!
Por Daniela Houck,
para sua coluna Café com Respeito!